sexta-feira, 3 de agosto de 2012

HOUVE EXTERMÍNIO SISTEMÁTICO DE ALDEIAS INDÍGENAS NA DITADURA

Perseguido pela ditadura, José Humberto Costa do Nascimento, o Tiuré Potiguara, abandonou seu trabalho na Funai, viveu escondido na floresta amazônica e, após conseguir deixar o Brasil, foi reconhecido como refugiado pelo governo do Canadá. Agora, de volta ao país, ele aguarda a Comissão de Anistia julgar seu pedido de reconhecimento como vítima do regime e quer a ajudar a Comissão Nacional da Verdade a resgatar a história do que classifica como “genocídio indígena praticado pela ditadura”. Najla Passos Brasília - Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Tiuré descreve o que testemunhou das atrocidades cometidas pela ditadura contra os índios, critica a participação dos irmãos Vilas Boas no processo, cobra autonomia para as nações indígenas e reivindica que o país dê o passo histórico necessário para o reconhecimento dos povos originários que, segundo ele, embora não conste nos registros oficiais, são tão vítimas dos militares quando estudantes, operários, militantes e camponeses. “Pode parecer irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano parecem maior, parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala em 400 desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque houve extermínio sistemático de aldeias. Era uma política de estado”, afirma. Qual a sua etnia, a sua região de origem? Eu sou da etnia potiguara, do litoral da Paraíba. Antes, nós ocupávamos um território que ia da Paraíba ao Maranhão. Hoje em dia, estamos reduzidos somente ao norte do estado, na costa. E como foi seu envolvimento com a ditadura militar? Na década de 1970, eu era funcionário da Funai e, lá dentro, eu pude ver a política oficial da ditadura com relação aos índios. Impossibilitado de conviver com aquilo, abandonei o órgão e, convidado pelo líder de uma aldeia parkatejê, fui embora para a Amazônia, ajudá-los a se organizar para combater os militares. A aldeia ficava no sul do Pará, numa região já marcada pelo combate à Guerrilha do Araguaia. Era uma região de forte presença dos militares. E a ditadura tinha, de fato, essa política de dizimar aldeias, cometer abusos e violações de direitos humanos contra os indígenas? Isso hoje tá comprovado. Havia um coronel chamado Amauri, chefe da Funai em Belém, que usava de todos os métodos para exploração, por exemplo, do ouro e da castanha do Pará, obrigando os índios a trabalharem em sistema de escravidão. Ele usava a repressão, a violência, atirava... o grupo parkatejê já era considerado exterminado. De 1964 até 1975, a etnia perdeu mais de mil pessoas. Um processo de dizimação mesmo, porque já estava em andamento a tática da ditadura de ocupação da Amazônia, com os grandes projetos, como a transamazônica. E todo esse projeto eu vi dentro da Funai, quando ainda trabalhava lá. E era um projeto já ditado pelos americanos. Eu tive acesso a diversos documentos. Eu não sabia ler em inglês, mas compreendida os relatórios do adido militar americano no Brasil. Então, já existia um entendimento para desocupação desta área para exploração dos grandes projetos, como Carajás, Tucuruí, as grandes linhas de transmissões, a ferrovia, Serra Pelada... e os índios atrapalhavam, porque estavam em cima dessa região. E você participou ativamente da resistência indígena? Sim, e em consequência disso, tive que ficar dois anos escondido na mata, porque o Exercito estava atrás de mim, a Polícia Federal tinha ordem para me prender. Como eu não pertencia à aldeia, eles achavam que era eu que estava acirrando os índios. Fui considerado subversivo, agitador, não podia sair. Eles iam até de helicóptero atrás de mim. A perseguição fui muito grande, não só para mim, mas para outras lideranças também. E houve mortes, sequestros, torturas que, por ocorrerem na floresta, por não se darem no ambiente urbano, era muito mais impune, muito mais abafada. Tanto é que até hoje se procuram os guerrilheiros do Araguaia. Na floresta, os militares usaram de todas as atrocidades possíveis, porque acharam que iam ficar totalmente cobertos, que não haveria testemunhas e que esta história nunca viria à tona, como está acontecendo hoje. E obrigavam os índios, por exemplo, a ajudá-los a eliminar os guerrilheiros. Colocavam os índios na frente, como bate-paus, para identificar os acampamentos. Como foi o caso dos suruís. E esses índios ainda estão vivos, podem ajudar a recontar a história, a localizar ossadas? Eu mesmo passei por um cemitério de guerrilheiros quando estava na companhia dos suruís. Nós estávamos fazendo um levantamento da área suruí para saber se havia possibilidade de extrair castanha. Já havíamos feito isso com os parkatejês, que são vizinhos, e eles também queriam uma fonte de renda própria, para não ter mais que depender da Funai. E eu fui designado para ir ajudá-los. A gente andava muito pela mata e, em uma dessas caminhadas, o grupo que estava comigo falou: “Tiuré, aqui estão enterrados os camará”. Camará são os brancos que estavam na área, os guerrilheiros do Araguaia. Devem ter alguns desses índios vivos até hoje. Eles eram mais velhos do que eu. E se eu estou com 63 anos, então devem ter 70 ou 80 anos. E no lugar dava pra ver realmente que não tinha mata, que existiam algumas covas rasas, bem na beira de um rio. É claro que, depois, os índios viram também militares voltarem lá para as tais “operações limpeza”, a retirada dos ossos. Mas os militares não eram assim tão minuciosos. Ainda podem haver alguns vestígios da presença de guerrilheiros por lá. Neste cemitério específico, eu soube que haviam sido enterrados três guerrilheiros. Como os suruís lidavam com a violência praticada pelos militares? Isso acabava com eles. Os suruís tiveram muitas índias estupradas. Se você for hoje na aldeia, ainda há filhos de militares do Exército, de soldados e mesmo dos de patentes altas. Os militares fizeram campos de aviação na área. Os índios não podiam sair da aldeia. Toda a liberdade que eles tinham foi reduzida. E aqueles que não participavam das ações militares eram reprimidos e até mortos. Uns tinham que fugir dali. Então, os suruís foram vítimas, foram amordaçados dentro de seu próprio território, e obrigados a caçar os guerrilheiros, com quem eles já haviam estabelecido contato e relação de amizade. Porque, entre os guerrilheiros tinham dentistas, médicos que mantinham relações amistosas com eles. Iam na aldeia, trocavam milho, enfim, tinham um bom relacionamento antes da repressão chegar na floresta. Eles conheciam mesmo os guerrilheiros, e tinham conhecimento da região como a palma da mão. E, numa das ações, eles localizaram um acampamento, foram na frente, e o Exército chegou atrás, pegou os guerrilheiros totalmente desprevenidos, sem condições de reação. Os militares executaram todos eles e ainda obrigaram os índios a participar do ritual de corte de cabeças. Quando eu cheguei na aldeia, uns dois anos depois, esse ritual ainda afetava muito os suruís. Achavam que foi uma prática tão bárbara contra outro ser humano que não conseguiam superar. Você já pediu reparação ao estado brasileiro pelos crimes cometidos contra você? Eu já dei entrada no pedido de anistia política. Não pelo dinheiro, mas por acreditar que meu reconhecimento como anistiado vai abrir uma porta para que outros índios, como os suruís, também consigam. Eu também já me coloquei à disposição para voltar a área, recuperar a confiança dos suruís e pedir que eles ajudem os brancos a localizar os corpos dos camarás, para que as respectivas famílias possam fazer os devidos rituais para os seus mortos. Para que possam vencer essa etapa da sua história. Estou aguardando o retorno das autoridades, mas até agora nada. Você acha que existe algum tipo de resistência em incluir os índios como vítimas da ditadura? Como se os índios fossem os excluídos dos excluídos? A sociedade brasileira vem de uma herança colonizadora que já soma 500 anos de exclusão indígena. Até hoje nós não temos nossa história contada por nós mesmos. Há sempre uma história oficial que se sobrepõe. Então, esse reencontro da sociedade branca com a sociedade indígena, a tal reconciliação de que tanto se fala hoje, passa por esse reconhecimento do outro, pela aceitação dos primeiros habitantes desta terra, da sua cultura, da sua herança cultural para o povo brasileiro. Infelizmente, ainda não temos esse respeito. A resistência à aceitação dos índios como vítimas da ditadura é muito grande. Pode parecer irônico falar isso, mas a repressão, as torturas, as atrocidades cometidas no meio urbano parecem maior, parecem que doeram mais do que as que foram cometidas contra os índios. Hoje se fala em 400 desparecidos nas cidades, mas nós podemos falar em cinco mil desaparecidos indígenas, porque houve extermínio sistemático de aldeias. Era política de estado. Então, nós estamos tentando levantar essa documentação para comprovar isso. Tem muita coisa que foi publicada no exterior, e também estamos buscando os documentos existentes no Brasil. E, principalmente, os relatos de pessoas que ainda estão vivas. Que estão velhos, mas estão vivos. É a oportunidade do estado brasileiro dar um passo a frente no reconhecimento do outro, do índios brasileiro que foi afetado não só pela ditadura, mas é até hoje. É a questão da terra, do desenvolvimento impulsionado de cima para baixo. Seja a soja, o minério, a exploração dos recursos hídricos dos territórios indígenas. No Canadá, eu participei do movimento indígena canadense e é muito diferente daqui. Você viveu no Canadá, quando? Eu fui em 1985 porque, quando se fala em abertura política, estamos falando de uma questão teórica, porque a ditadura continuava, principalmente no meio do mato, no interior. Dura até hoje. O coronelismo ainda está lá. O poder político, os currais eleitorais, estão lá. Os assassinatos das lideranças indígenas e das lideranças rurais, as queimas de arquivo, a impunidade, tudo isso continua. E se eu saí do país em 1985, é porque já não existia mais nenhuma possibilidade para mim. Se eu não saísse, eu não estaria hoje aqui contando essa história. Foi a possibilidade de consciência, porque muitos outros índios não tiveram condições de sair. No Canadá, pedi reconhecimento como refugiado político. Foi um processo longo, que levou cinco anos de investigações. O governo canadense até veio ao Brasil investigar minha história. E eu consegui provar tudo o que dizia. Considero o meu reconhecimento como refugiado como uma condenação do Brasil. A primeira condenação por violações aos direitos de um índio. O assunto teve grande repercussão na imprensa internacional. E como é no Canadá? É claro que o Canadá não é um paraíso para os índios, mas eles estão bem mais avançados nessas questões de direitos humanos. Eles já participam dos royalties, por exemplo, das companhias que exploram petróleo, que utilizam os recursos hídricos, através de hidrelétricas. Eles participam dos lucros das empresas e os gerem de forma mais autônoma. Então, você discorda dessa política brasileira de tutela dos índios? Claramente. Hoje se fala muito em autossuficiência, se fala em autossustentabilidade, mas não se dar autonomia financeira para os índios. O que se tem hoje são migalhas, reparações financeiras que só resolvem o problema temporário. Essas indenizações não significam nada. Nós queremos é participar dos lucros dessas empresas. Nós queremos ter a nossa universidade. Eu estudei numa universidade indígena canadense financiada com os recursos dos indígenas, com professores indígenas. Nós queremos universidades nas nossas áreas, queremos hospitais para atendimento 24 horas nos nossos territórios. Nós temos um problema grave em educação e saúde que não se resolve com indenizações pontuais. Na minha área potiguara, ainda há uma usina funcionando que foi instalada pela ditadura. A maior reserva de titânio do Brasil tá lá na nossa área. E uma mineradora explora. E tem uma aldeia há 4 Km dessa exploração em que as pessoas estão morrendo à míngua. É uma situação insustentável. Tem que haver uma mudança. Temos que discutir a participação nos lucros dessas empresas. Assim como os estados estão brigando pelos royalties, nós também, os primeiros povos, queremos royalties, porque estamos sendo explorados em nosso território. Na época da ditadura, o Exército entrou na nossa área [Potiguara] e garantiu terras para grandes latifundiários e grandes companhias internacionais. Nós perdemos um terço do nosso território durante a ditadura. Eles deram até um atestado de óbito para nosso povo, dizendo que não existiam mais potiguaras na área. E com esta certidão negativa, conseguiram financiamento do Banco Mundial. A Funai é responsável por tudo que aconteceu com o povo indígena. Na sua experiência na Funai, você deve ter convivido com os irmãos Villas Boas. Qual foi o papel deles neste contexto todo? Eu tenho uma crítica muito grande aos Villas Boas. Eles são considerados os humanistas, não sei nem como ainda não foram laureados pelo Nobel, porque conseguiram uma publicidade incrível. Mas eles participaram desse processo de aprisionamento das nações indígenas, como se quisessem criar um zoológico. O Xingu é isso. Na época da ditadura, os interesses de deslocar as aldeias para desenvolvimento da economia levou os militares a usar os Villas Boas para criar aquele Parque do Xingu, que não é nada mais do que você colocar diferentes aldeias, muitas delas que viviam em guerra culturais seculares, todas juntas. Línguas diferentes, culturas diferentes, tudo no mesmo território. E os Villas Boas participaram disso e acabaram criando um cenário de propaganda do regime. O Xingu virou o cartão postal da política indigenista. Aquela coisa mais supérflua, mais teatral, para os militares promoverem festas e lotarem aviões de gente par aos verem sendo fotografados com os índios. Para mim, os Villas Boas foram complacentes com a ditadura. Olha, eu entrei na Funai com a visão de que a política dos militares para os índios era aquela do Marechal Rondon: “morrer se for preciso, mas matar nunca”. Mas, na verdade, a cartilha deles era o contrário, era a cartilha americana: “índio bom é índio morto”. Então, temos que desmistificar essas histórias impostas pelo regime e contar a nossa história. É isso o que esperamos da Comissão Nacional da Verdade, da Comissão da Anistia. Hoje, você milita em alguma organização indígena? Não. Eu estou ligado a minha aldeia, uma aldeia pequena. Não sou de partido nenhum, não pertenço a nenhuma ONG. A minha intenção é criar uma resistência indígena nacional. É com este intuito que voltei ao Brasil. O movimento indígena, na minha época, tentava se organizar. Hoje, há muitas lideranças cooptadas, com cargos no governo, na Funai, com acordos desvantajosos com a iniciativa privada. Por isso, minha intenção é ajudar na conscientização pra gente fazer um levante revolucionário, para retomarmos nossas terras. Fonte: Carta Maior

segunda-feira, 2 de julho de 2012

ESCOLA CEREBRAL

"A natureza humana é feita de corpo, mente e sonhos. E mais algumas coisas que estamos para descobrir num milênio próximo. Para a escola, o ser humano é feito de um cérebro vivo e um corpo morto". Como diz o meu cunhado, nascemos carecas, pelados e ignorantes. Cada vez que uma criança vem à luz, tem de fazer um novo reconhecimento do universo, uma nova constatação das possibilidades humanas. Seria tão bom se o conhecimento passasse de pai para filho através do sangue, dos genes! Não precisaríamos passar tantos anos sofrendo essas dores do aprendizado. Nasceríamos cada vez mais preparados para usufruir as graças da Natureza, da cultura e da ciência. A escola está aí para facilitar esse processo, mas parece que as coisas não estão funcionando a contento também ali, no centro repassador de conhecimentos. Como qualquer outra instituição, a escola começa acreditando numa idéia, e depois apresenta uma terrível dificuldade para livrar-se dela, ou para estendê-la ao alcance de outras idéias mais elaboradas. A escola ocidental trabalha há séculos na firme convicção de que o único aprendizado possível ocorre no cérebro. Apesar de toda a retórica em torno da necessidade de praticar-se a “interdisciplinariedade”, ou mais, a “transdisciplinariedade” (palavras que enchem a boca dos acadêmicos), os nossos estudiosos parecem ignorar que a criatura humana realiza-se em muitas outras disciplinas além das escolares, ou que a estrutura humana é muito mais complexa do que essa lógica simplista em que está baseada a cultura ocidental. A natureza humana é feita de corpo, mente e sonhos. E mais algumas coisas que estamos para descobrir num milênio próximo. A maior dificuldade dos professores em sala de aula é convencer os alunos de que a substância intelectual que tentam lhes enfiar na cabeça é melhor que o sorvete, o beijo, o perfume, a música, a paisagem. O conhecimento “lógico”, no qual nos baseamos desde Sócrates, costuma ser árido, salgado, azedo, desagradável. É natural que o jovem recuse, pois, naturalmente, quer o melhor para si. A opção pelo cérebro acontece devido à sua qualidade de distinção, que dá aos homens o poder sobre as outras criaturas. Se é o intelecto que destaca o homem, concentremo-nos nele. Mas a partir dessa prática, nossos sentidos corporais estão tornando-se cada vez mais atrofiados. Ilude-se quem pensa que “os estudantes de hoje só pensam prazer, prazer!”. O prazer que eles estão fruindo é extremamente conceitual, intelectualizado. Poucos descem os degraus da civilização para colher os frutos selvagens, as verdadeiras delícias, a torta da maçã de Eva! Quando se trata do corpo, a escola sabe instruir os alunos a fazerem ginástica para aprimorar os músculos, e pouco mais do que isso. Preferimos esquecer que todo conhecimento, antes de chegar ao caldeirão cerebral, passa pelos sentidos físicos. Isto é óbvio, um conhecimento tão antigo quanto a nossa civilização. Porém, qual escola tem-se empenhado em ajudar os garotos a reconhecer, a desvendar e a promover sua sensibilidade corporal? No máximo, fala-se da estrutura das papilas gustativas, da fisiologia dos olhos, dos labirintos auditivos. Mas onde está o professor que ensina ao aluno a maravilha do olhar? Qual mestre leva para a sala uma vitrola (perdão, um micro system) para escutar Mozart, Villa Lobos? Limitamos nossos sentidos ao que eles nos dão cotidianamente. Ouvimos distraidamente uma música no rádio, ou passamos o dia decifrando as conversas dos outros. Sentimos o perfume de um jardim distante e sequer tentamos descobrir qual flor o emana. Ou simplesmente deixamos a cargo de uma violenta publicidade decidir qual produto do boticário será mais agradável ao cérebro do parceiro do sexo oposto. Mas a disciplina do olfato, onde está? Os garotos aprendem que nariz e cérebro em conjunto decifram a imensa gama de aromas, mas não têm o privilégio de descobrir a impressionante ciência da perfumaria, as misturas dos odores, a importância do sentido do olfato na fixação da memória. Para a escola, o ser humano é feito de um cérebro vivo e um corpo morto. Quando se fala de educação sexual, toma-se o cuidado de explicar aos pequenos os nomes científicos dos genitais — já que os apelidos desses órgãos, como os garotos os conhecem cotidianamente, é “besteira”, para não dizer “pecado”! Também se fala sobre a prevenção de doenças, as funções reprodutoras, mas ninguém comenta ou discute com a gurizada o prazer — ou o desprazer — do ato sexual. Qual revolucionário mestre um dia terá a coragem de pronunciar o verbo “gozar” em sala de aula? Ah, sim, ele teria de se ver com a diretoria, então, melhor deixar quieto. A diretoria só aprova se falar de sofrimento, o clímax previsto pelo livro sagrado. Eis aí um debate a ser redescoberto, valorizado. Há muito tempo sabemos que a função sexual, quando reprimida, leva a grandes desastres pessoais. E ninguém ignora que pessoas de treze anos em diante estão muito mais interessadas nos lábios, nos cabelos e nas pernas do(a)s colegas que na resolução dos enigmas matemáticos. A verdade está aí, diante dos nossos olhos, mas preferimos escondê-la sob o manto do pudor e a religiosidade. Dias atrás, encontrei meu antigo professor de 2o Grau, Pedro C. Está aposentando-se e diz que deixa a escola com uma dor no coração. “O plano dos americanos deu certo”, lamentou. “Conseguiram transformar o ensino brasileiro num lixo”. Pedro recordou os anos 60, quando o governo americano enviou alguns "sábios" para ajudar na estruturação do ensino brasileiro. Eles conseguiram, a longo prazo, fazer do Brasil uma nação cujos professores não lêem. Quando muito, lêem jornais, ou os estéreis livros didáticos, que apresentam análises resumidas dos autores originais. Raramente encontramos um professor que busque na fonte. Ainda mais raramente conhecemos um professor que leia romances, crônicas, poesias, essas “coisas” descartáveis, que costumavam transformar de forma tão poderosa as nossas vidas. Por Chico Guil Fonte Carta Maior

terça-feira, 10 de abril de 2012

AS RAZÕES DO ADIAMENTO DO PROJETO ALPA


VALE TENTA TIRAR DO PAPEL INVESTIMENTO DE US$ 9 BI EM AÇO


O plano de siderurgia da Vale que prevê a construção de três usinas no país até 2014, que gerou tanta polêmica no governo Lula, continua de pé, apesar de ter sofrido atrasos e alguns reveses. A mineradora projeta investir diretamente no negócio quase US$ 9 bilhões na construção de unidades de aço nos estados do Ceará, Pará e Espírito Santo. Até agora, porém, apenas a unidade do Nordeste está saindo do papel.

Trata-se da Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), que será erguida no Complexo Portuário de Pecém, próximo de Fortaleza, tendo a Vale como majoritária com 50% e as coreanas Dongkuk e Posco como sócias com 20% e 30%, respectivamente. O empreendimento está orçado em US$ 4,8 bilhões, dos quais a Vale entrará com a metade e os demais parceiros com percentuais correspondentes a sua participações societárias. A produção será toda exportada: de um lado, parte para as coreanas abastecerem suas laminadoras na Coreia do Sul; de outro, a Vale vai destinar placas para a Califórnia Steel, sua controlada nos Estados Unidos.

A CSP já firmou um contrato de US$ 4,4 bilhões com uma empresa “epecista”, a Posco Engineering Construction (PEC), braço de construção pesada da Posco, o que tornou o projeto “equacionado”, segundo informou ao Valor o diretor global da Vale para a área siderúrgica, Aristides Corbellini. A PEC fechou contrato com os acionistas da CPS, assumindo o compromisso de pôr o complexo siderúrgico em operação no segundo trimestre de 2015, com produção de 3 milhões de toneladas de placas de aço anuais para exportação.

Dos três projetos, o da Aços Laminados do Pará – Alpa, usina de aço a ser erguida em Marabá (PA), é o mais polêmico, dado seu viés político. Ele nasceu de uma exigência feita pela ex-governadora Júlia Carepa (PT), do Pará, com apoio do presidente Lula, aos acionistas da Vale, gerando atrito entre o ex-presidente e Roger Agnelli, então CEO da mineradora. O empreendimento por enquanto é 100% Vale e está estimado em US$ 5 bilhões.

O projeto engloba também uma unidade de laminados ao lado da usina de placas, que vai exigir mais US$ 1 bilhão. Esta unidade, porém, terá a Aços Cearense, uma empresa privada nordestina, participando com 75% como sócia majoritária da Vale na produção de laminados destinada ao mercado doméstico. As 2,8 milhões de toneladas de placas serão usadas na laminadora e uma parte exportada.

A ausência de solução logística para a Alpa impediu até agora que o conselho de administração da Vale aprovasse o projeto paraense, razão pela qual não foi cotado no orçamento de 2012. “A solução logística está em mãos dos governos federal e estadual”, informou Corbellini. “Como ela ainda não existe, não fixamos uma data para a usina entrar em operação. Mas a partir do marco zero, quando a logística estiver pronta, estamos preparados para construir a usina em 48 meses. Calculo que ela possa começar a produzir lá por 2018″.

Segundo o executivo da Vale, o que tem que ser feito pelo governo federal, é uma obra de “derrocamento” (explosão de pedras) num trecho do Rio Tocantins chamado Pedral do Lourenço, cheio de pedras que na seca impede as embarcações de certo calado de navegarem na hidrovia. As obras incluem também ampliação do porto de Vila do Conde, pois será ali que irá escoar a produção da Alpa. A Vale pretende construir um porto no litoral do Pará para completar esta infraestrutura logística.

Recentemente, o governo federal, através da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou que vai realizar as obras do Tocantins e dragar o rio viabilizando a navegação durante o ano inteiro na hidrovia que considera fundamental para o polo industrial de Marabá, município paraense onde será erguida a Alpa.

Os rumores de que a Vale teria abandonado o projeto da Alpa foram contestados por Corbellini. “Já gastamos, até agora, em estudos de viabilidade e de engenharia, seleção de equipamentos e terraplenagem total de US$ 260 milhões. Já terraplenamos 85% do terreno, mas há um lote que precisa ser desapropriado pelo governo estadual, o lote 11″.

O procurador geral do Estado do Pará, Caio Trindade, acredita que o governo do Estado consiga a desapropriação do lote 11 ainda este mês. Trindade disse que o dono do lote recorreu e ganhou de uma decisão do Tribunal de Justiça do Pará, que deu emissão de posse do lote ao governo em fevereiro. “Agora recorremos de novo e esperamos sair vitoriosos”.

O projeto mais novo de usina de aço da lista da Vale, o da Companhia Siderúrgica de Ubu – CSU, no Espírito Santo, também avaliado em US$ 5 bilhões, só será desenvolvido, segundo informou Corbellini, com um sócio majoritário. “Queremos ter só 20% deste negócio”.

Por Vera Saavedra Durão
Fonte:Valor Econômico

quarta-feira, 28 de março de 2012

A EXAUSTÃO DO MÉTODO


Engana-se quem, em razão da troca das lideranças no Congresso Nacional, acredita na mudança filosófica do governo federal. Engana-se ainda mais quem, por causa disso, vislumbra rompimento entre Dilma Rousseff e Lula e a engenharia política do governo anterior. Lula segue como o principal conselheiro da presidente e bobagem será procurar fraturas nesse relacionamento. O ex-presidente sabe que aquilo que um dia foi sólido pode perfeitamente desmanchar-se no ar, com o tempo, com o processo, com o uso. O que se passa, portanto, está longe de uma mudança de 180 graus ou coisa que o valha.

O que há, de fato, é a exaustão natural de um método e de procedimentos que nos trouxeram até aqui, mas que agora sofrem abalos e pedem repactuações. Mais útil, então, será compreender mais esta crise e as eventuais mudanças por ela geradas como o esgarçamento de acordos e relacionamentos firmados no pós-mensalão. Acordos que deram a reeleição a Lula e a sucessão a Dilma; que atraíram o PMDB e contiveram parcelas do PT desde sempre impacientes por, de direito e de fato, assumir o poder - e controlar os meios e dar as cartas.
 

O que se exaure é o modelo de governabilidade baseado na conciliação de interesses distintos e divergentes por meio da distribuição de espaços e recursos públicos. Escasseiam esses espaços e recursos e logo se deteriora o pacto. E não há mais a sedução presidencial - de Lula -, a conversa ao pé do ouvido, o receber em palácio, o tapinha nas costas, as metáforas de futebol e as promessas de que tudo se acerta, no futuro. Não é o estilo de Dilma e há mesmo uma impossibilidade: sedução e metáforas não resolvem tudo.
 

O presidencialismo de coalizão não é em si um mal; trouxe-nos até aqui, mas sua natureza expansiva e voraz não aceita limites. Oito anos de Lula, um ano e tanto de Dilma e todo o espaço, por diminuto que fosse, foi ocupado e os recursos, consumidos. A corrida das eleições municipais - na busca por maior cacife e melhor colocação em 2014 - aguça contradições e conflitos internos. A oposição é, antes de tudo, interna - a outra, a institucional, praticamente não existe.

 
O "é dando que se recebe" de Roberto Cardoso Alves chega ao paroxismo: quando nada mais há para dar, o que se recebe é ressentimento. As fontes secam, as verbas mínguam; os esquemas se esbarram, se confundem e mutuamente se anulam. A política assume sua face de "guerra por outros meios". O mal-estar é óbvio. O Brasil ainda não deu certo. Não o compreende quem não quer.
 

Oito anos de Lula, um ano e pouco de Dilma e a base só fez crescer. O triunfalismo estabeleceu-se; o adesismo fundiu-se, agigantou-se e perdeu mobilidade, unidade, organicidade. As margens de ação estreitaram-se, a voracidade naturalmente se transformou em autofagia: os mais vivos comem os menos vivos. Evidencia-se o equívoco: é impossível fugir do Congresso, sonegar-lhe a agenda, evitar a sua pressão. Estratégias individuais assumem lógica coletiva e, por sobrevivência, o Parlamento formaliza sua própria agenda, a negativa!

 
O Estado não consegue expandir-se na velocidade do apetite fisiológico. Onde o produto interno bruto (PIB) caminha a passo de cágado e o medo da volta da inflação impõe comedimento fiscal, há escassez e tergiversação: os garçons apenas anotam pedidos. Nesse contexto, Romero Jucá e Cândido Vaccarezza se equilibravam, malabaristas de um jogo lancinante. Mas haja destreza para lidar com tantos marimbondos de fogo.
 

No impasse, Jucá viu-se obrigado a escolher o senhor a quem se devotar. Voltou para o leito de Renan Calheiros e José Sarney. Já Vaccarezza atordoado estava e atordoado ficou, caminhando descalço sobre o fio da navalha de um PT dividido. Jucá e Vaccarezza, seus grupos, também saberão a hora de dar o troco.

 
Os novos líderes, Eduardo Braga e Arlindo Chinaglia, podem facilitar a interlocução, são sangue novo e promessa de novos ares, têm um estoque de palavras a empenhar. Mas quem representarão? O governo ou as demandas? Dilma resolveu medir forças com a parcela mais voraz, articulada e astuta da base. Dará resultado? Os adversários têm mais paciência e experiência do que a presidente e são também menos pressionados. A voracidade nunca se farta: em vez de atender a ela ou enganá-la, melhor seria eliminá-la.

 
Há neste governo, porém, dois problemas crônicos que compõem um verdadeiro enigma: falta-lhe a base coesa e programática, fiel e disposta a defender uma agenda; mas carece também de uma agenda clara e politizada, que aponte rumos e garanta o que se conquistou nos últimos 20 anos; uma agenda capaz de persuadir e/ou coagir a base, dando-lhe coesão e rumo programático. O que vem primeiro, a base ou a agenda?

 
A despreocupação programática, a inexistência de agenda e a conciliação são terrenos férteis para a corrosão fisiológica. E isso, é claro, compromete qualquer esforço de unir e orientar a base. A capitulação quanto às reformas não apenas implica a fragilização do desenvolvimento econômico, como também fortalece interesses individuais, reafirma o oligarquismo e o status quo. No Brasil de hoje - e isso não é responsabilidade exclusiva da presidente Dilma - há, lamentavelmente, um vazio de criatividade e de ímpeto da liderança. Pragmatismo em excesso é uma praga.
 

O círculo é vicioso, do tipo "o ovo ou a galinha". Ou o tal "enigma de Tostines": vende mais porque está sempre "fresquinho" ou o contrário? Provavelmente o biscoito venda porque se acredita que esteja fresquinho - o que faz com que venda mais, mantendo-se fresquinho. A liderança implica reverter o círculo; em algum grau, a crença, a ousadia, projeto e a utopia são imprescindíveis. Duelar com ideias pode ser uma luta vã, mas ao menos mobiliza sonhos e forja caracteres; escreve outra história. Sem isso tudo perde o frescor.

Por: Carlos Melo
*Cientista político, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), é autor de 'Collor, o ator e suas circunstâncias'. E-mail: Carlos.melo@insper.edu.br
Fonte: Estadão

LIBERDADE DE IMPRENSA


A censura volta a dar as caras em nosso país. Dessa vez não está sendo imposta pelos militares e sim por juízes que recentemente vem censurando jornalistas como aconteceu com Lúcio Flávio Pinto e mais recentemente com Franssinete Florenzano.
Fica minha solidariedade a todos os jornalistas, blogueiros e todos aqueles que se expressam e que são tolidos seja pela justiça ou por governos opressores.

Abaixo texto de Franssinete Florenzano.

O vice-presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto, no Fórum sobre Liberdade de Imprensa e Poder Judiciário, na Sala de Sessões da Primeira Turma do STF, no painel “O Brasil sem Lei de Imprensa”, lembrou as razões que levaram a Suprema Corte a suspender a aplicação da Lei de Imprensa no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 130, em abril de 2009, quando o STF considerou a Lei 5.250/67 incompatível com a Constituição Federal de 1988.

Faço minhas as palavras do ministro, futuro presidente do STF:

“Não há opção diferente daquela que seguramente fez o nosso Magno Texto Republicano: consagrar a plenitude de uma liberdade tão intrinsecamente luminosa que sempre compensa, de muito, de sobejo, inumeravelmente, as quedas de voltagem que lhe infligem profissionais e organizações aferrados a práticas de um tempo que estrebucha, porque já deu o que tinha de dar de voluntarismo, chantagem, birra, perseguição.

Esparsas nuvens escuras a se esgueirar, intrusas, por um céu que somente se compraz em hospedar o sol a pino. Exceção feita, já o vimos, a eventuais períodos de estado de sítio, mas ainda assim “na forma da lei”. Não da vontade caprichosa ou arbitrária dos órgãos e autoridades situados na cúpula do Poder Executivo, ou mesmo do Poder Judiciário.

Verbalizadas tais reflexões e fincadas estas primeiras interpretações da Magna Carta Federal, também facilmente se percebe que a progressiva inafastabilidade desse dever da imprensa para com a informação em plenitude e sob o timbre da máxima fidelidade à sua base empírica é que passa a compor o valor social da visibilidade.

Nova categoria de direito individual e coletivo ao real conhecimento dos fatos e suas circunstâncias, protagonismos e respectivas motivações, além das ideias, vida pregressa e propostas de trabalho de quem se arvore a condição de ator social de proa, principalmente se na condição de agente público.

Visibilidade que evoca em nossas mentes a mensagem cristã do “conheceis a verdade e ela vos libertará” (João, 8:32), pois o fato é que nada se compara à imprensa como cristalina fonte das informações multitudinárias que mais habilitam os seres humanos a fazer avaliações e escolhas no seu concreto dia-a-dia.

Juízos de valor que sobremodo passam por avaliações e escolhas em período de eleições gerais, sabido que é pela via do voto popular que o eleitor mais exercita a sua soberania para a produção legítima dos quadros de representantes do povo no Poder Legislativo e nas chefias do Poder Executivo. Mais ainda, visibilidade que, tendo por núcleo o proceder da Administração Pública, toma a designação de “publicidade” (art. 37, caput, da CF). Publicidade como transparência, anote-se, de logo alçada à dimensão de “princípio”, ao lado da “legalidade”, “impessoalidade”, “moralidade” e “eficiência”. Sendo certo que a publicidade que se eleva à dimensão de verdadeira transparência é o mais aplainado caminho para a fiel aplicação da lei e dos outros três princípios da moralidade, da eficiência e da impessoalidade na Administração Pública.

Daqui já se vai desprendendo a intelecção do quanto a imprensa livre contribui para a concretização dos mais excelsos princípios constitucionais. A começar pelos mencionados princípios da “soberania” (inciso I do art. 1º) e da “cidadania” (inciso II do mesmo art. 1º), entendida a soberania como exclusiva qualidade do eleitor-soberano, e a cidadania como apanágio do cidadão, claro, mas do cidadão no velho e sempre atual sentido grego: aquele habitante da cidade que se interessa por tudo que é de todos; isto é, cidadania como o direito de conhecer e acompanhar de perto as coisas do Poder, os assuntos da pólis.

Organicamente. Militantemente. Saltando aos olhos que tais direitos serão tanto melhor exercidos quanto mais denso e atualizado for o acervo de informações que se possa obter por conduto da imprensa (contribuição que a Internet em muito robustece, faça-se o registro).

Esse direito que é próprio da cidadania – o de conhecer e acompanhar de perto as coisas do Poder, e que a imprensa livre tanto favorece - nós mesmos do Supremo Tribunal Federal temos todas as condições para dizer da sua magnitude e imprescindibilidade. É que a própria história deste nosso Tribunal já se pode contar em dois períodos: antes e depois da “TV Justiça”, implantada esta pelo então presidente Marco Aurélio. TV Justiça a que vieram se somar a TV digital e a “Rádio Justiça” (criações da ministra Ellen Gracie, à época presidente da Corte), para dar conta das nossas sessões plenárias em tempo real. O que tem possibilitado à população inteira, e não somente aos operadores do Direito, exercer sobre todos nós um heterodoxo e eficaz controle externo, pois não se pode privar o público em geral, e os lidadores jurídicos em particular, da possibilidade de saber quando trabalham, quanto trabalham e como trabalham os membros do Poder Judiciário. Afinal, todo servidor público é um servidor do público, e os ministros do Supremo Tribunal Federal não fogem a essa configuração republicana verdadeiramente primaz.

Também deste ponto de inflexão já vai tomando corpo a proposição jurídica de que, pelo seu reconhecido condão de vitalizar por muitos modos a Constituição, tirando-a mais vezes do papel, a Imprensa passa a manter com a democracia a mais entranhada relação de mútua dependência ou retroalimentação. Falo da democracia como categoria jurídico-positiva (não simplesmente filosófico-política), que em toda Constituição promulgada por uma Assembleia Constituinte livremente eleita consubstancia o movimento, o fluxo ascendente do poder de governar a pólis; quer dizer, o poder de governar toda a coletividade como aquele que vem de baixo para cima, e não de cima para baixo da escala social.

(...)Avanço na tessitura desse novo entrelace orgânico para afirmar que, assim visualizada como verdadeira irmã siamesa da democracia, a imprensa passa a desfrutar de uma liberdade de atuação ainda maior que a liberdade de pensamento e de expressão dos indivíduos em si mesmos considerados. Até porque essas duas categorias de liberdade individual também serão tanto mais intensamente usufruídas quanto veiculadas pela imprensa mesma (ganha-se costas largas ou visibilidade – é fato -, se as liberdades de pensamento e de expressão em geral são usufruídas como o próprio exercício da profissão ou do pendor jornalístico, ou quando vêm a lume por veículo de comunicação social). O que faz de todo o capítulo constitucional sobre a comunicação social um melhorado prolongamento dos preceitos fundamentais da liberdade de manifestação do pensamento e de expressão em sentido lato.

A Constituição proclama que (...) “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional” (inciso XIV). Discurso libertário que vai reproduzir na cabeça do seu art. 220, agora em favor da imprensa, com pequenas alterações vocabulares e maior teor de radicalidade e largueza. Confira-se:
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição”.

É precisamente isto: no último dispositivo transcrito a Constituição radicaliza e alarga o regime de plena liberdade de atuação da imprensa, porquanto fala:
a) que os mencionados direitos de personalidade (liberdade de pensamento, criação, expressão e informação) estão a salvo de qualquer restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico ou tecnológico de sua veiculação;
b) que tal exercício não se sujeita a outras disposições que não sejam as figurantes dela própria, Constituição. Requinte de proteção que bem espelha a proposição de que a imprensa é o espaço institucional que melhor se disponibiliza para o uso articulado do pensamento e do sentimento humanos como fatores de defesa e promoção do indivíduo, tanto quanto da organização do Estado e da sociedade.

Plus protecional que ainda se explica pela anterior consideração de que é pelos mais altos e largos portais da imprensa que a democracia vê os seus mais excelsos conteúdos descerem dos colmos olímpicos da pura abstratividade para penetrar fundo na carne do real. Dando-se que a recíproca é verdadeira: quanto mais a democracia é servida pela imprensa, mais a imprensa é servida pela democracia. Como nos versos do poeta santista Vicente de Carvalho, uma diz para a outra, solene e agradecidamente, “Eu sou quem sou por serdes vós quem sois”.

Se se prefere, vigora em nosso ordenamento constitucional uma forma de interação imprensa/sociedade civil que não passa, não pode passar pela mediação do Estado. Interação que pré-exclui, portanto, a figura do Estado-ponte em matéria nuclear ou axialmente de imprensa. Tudo sob a ideia-força de que à imprensa incumbe controlar o Estado, e não o contrário, conforme ressalta o jornalista Roberto Civita, presidente da Editora Abril e editor da revista VEJA, com estas apropriadas palavras: “Contrariar os que estão no poder é a contrapartida quase inevitável do compromisso com a verdade da imprensa responsável”.

Outra não podia ser a escolha da nossa Lei Maior, em termos operacionais, pois sem essa absoluta primazia do que temos chamado de sobredireitos fundamentais sobejariam falsas desculpas, sofismas, alegações meramente retóricas para, a todo instante, crucificá-los no madeiro da mais virulenta reação por parte dos espíritos renitentemente autoritários, antiéticos, ou obscurantistas, quando não concomitantemente autoritários, antiéticos e obscurantistas. Inimigos figadais, por consequência, da democracia e da imprensa livre.” (ADPF 130, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário, DJE de 6-11-2009.) No mesmo sentido: Rcl 11.305, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20-10-2011, Plenário,DJE de 8-11-2011; AI 684.535-AgR-ED, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 20-4-2010, Segunda Turma, DJE de 14-5-2010. Vide: ADI 4.451-MC-REF, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 2-9-2010, Plenário, DJE de 1º-7-2011. (grifei)

Todo agente público está sob permanente vigília da cidadania, é direito do cidadão saber das coisas do poder, ponto por ponto. À imprensa cabe, sim, denunciar e dar ampla cobertura, e ao Poder Judiciário proteger a sociedade, que precisa e deve ter seus direitos preservados e defendidos.

Franssinete Florenzano - Jornalista e Advogada
Fonte: http://uruatapera.blogspot.com.br/

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POLITICALHAS QUE MATAM



Governos, qualquer um, a qualquer tempo, em qualquer nível de poder, deveriam tratar a Saúde pública a partir de um pressuposto real: o mau gerenciamento nesse setor pode ser fatal, vital, letal.

Políticas públicas equivocadas e recursos mal aplicados - seja por desídia, negligência ou mesmo em decorrência de desbragadas corrupções - acabam matando as pessoas. Isso é fato.


Há cerca de dez dias, um fato revelou incongruências e politicalhas - ou politicagens - verdadeiramente letais no setor de Saúde pública.

Um garoto de 13 anos de idade morreu na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de um hospital de Brasília. Era filho de Flávio Dino (PCdoB), ex-deputado federal, juiz federal por 12 anos e atual presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur).

A suspeita de negligência e de erro médico está sendo investigada pela polícia, pelo Ministério Público e pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal.


Durante o sepultamento, estava presente, entre outras autoridades, Agnelo Queiroz, ex- PCdoB, governador do Distrito Federal eleito pelo PT. Além dele, pelo menos mais 200 pessoas, entre elas alguns condestáveis da República, como o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

'Quando há esquema político na área da Saúde, não se resolvem os problemas e as pessoas morrem', disse na frente de todo mundo Flávio Dino - não o ex-magistrado, não o político, mas o pai.

'Não é possível alguém morrer de asma dentro de uma UTI, Agnelo. Esse hospital [de Brasília] matou meu filho. Por que não me mataram? Eu preferia mil vezes estar naquele caixão no lugar dele', disse Flávio Dino.

Segurando o governador Agnelo Queiroz pelo braço, continuou: 'Vou enterrar meu filho sem saber direito por que ele morreu. Você sabia que a necropsia do corpo não foi completa porque tem equipamentos quebrados no Instituto Médico Legal?', questionou Flávio Dino. O governador, que calado estava, calado ouviu a pegunta e calado permaneceu.

'Quando meu filho parou de respirar na UTI do hospital, tentaram reanimá-lo, mas o equipamento usado para isso estava quebrado. Providenciaram outro, mas quando ele chegou já era tarde', disse Flávio Dino.

O silêncio do governador do Distrito pode ter sido o silêncio cauteloso, respeitoso, reverencial e até solidário em relação a um pai desesperado,
desolado, a quem nada e ninguém poderiam consolar num momento como aquele.

Mas o silêncio do governador também pode ter representado o silêncio dos cúmplices, dos que nada têm a dizer porque nada fazem - ou fazem mal, muito mal - quando setores essenciais, vitais, letais da administração pública
enveredam pelo caminho tortuoso da imprevidência e de gestões inadequadas.

O silêncio do governador do Distrito Federal pode ter sido do tipo dos que ensejam o grito, o clamor de revolta de milhares, milhões de pessoas desamparadas, que madrugam nas filas intermináveis do SUS, à procura de socorro que muitas vezes não é prestado na hora porque não existe sequer um pedaço de gaze para cobrir um ferimento.

O silêncio do governador pode ter o mesmo sentido do silêncio de tantos governantes que não têm a dimensão exata do que se passa nos porões de sua administração porque nunca tiveram - e felizmente não tiveram - um filho,
um familiar ou um amigo morto nas mesmas circunstâncias em que morreu o filho do presidente da Embratur.

O silêncio do governador deve ter como contraponto a vigilância, as cobranças, as pressões, o maior empenho de toda a sociedade, para cobrar permanentemente a adoção de políticas públicas que garantam a todos, independentemente de condição social, o atendimento digno, humano e eficaz no setor de Saúde pública.

Fonte: O Liberal

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CULTIVE O SIMPLES


Infelizmente a humanidade está contaminada por um padrão social que engessa suas mentes, encurta sua capacidade de pensar e torna-as escravas da mídia.
Não há espontaneidade nas ações, todos tentamos nos enquadrar naquilo que os outros esperam de nós.
A sinceridade e a humanização tornam-se artigos raros e muitas vezes caros.
A angústia causada pela busca incansável de poder, dinheiro e status social, acabam desencadeando a depressão e a ansiedade.
Hoje o mercado de anti-depressivos é um dos que mais crescem no planeta. E quem vai competir com o poder financeiro dos laboratórios que insistem em criar seres humanos dependentes de seus produtos?
Para que vocês tenham um bom dia deixo uma grande poesia do Barão Vermelho. E não esqueçam de que o simples é o mais importante. (Quem me dera ao menos uma vez,que o mais simples fosse visto como o mais importante - renato russo)

Penso como vai minha vida
Alimento todos os desejos
Exorcizo as minhas fantasias
Todo mundo tem um pouco de medo da vida

Pra que perder tempo desperdiçando emoções
Grilar com pequenas provocações?
Ataco se isso for preciso
Sou eu quem escolho e faço os meus inimigos

Saudações a quem tem coragem
Aos que tão aqui pra qualquer viagem
Não fique esperando a vida passar tão rápido
A felicidade é um estado imaginário

Não penso em tudo que já fiz
E não esqueço de quem um dia amei
Desprezo os dias cinzentos
Eu aproveito pra sonhar enquanto é tempo

Eu rasgo o couro com os dentes
Beijo uma flor sem machucar
As minhas verdades eu invento sem medo
Eu faço de tudo pelos meus desejos

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DE OLHO NO ATENDIMENTO!


A cada dia, com o mercado competitivo, é fundamental que as empresas invistam em um diferencial cada vez mais necessário: O ATENDIMENTO.

Um exemplo é o que ocorre nas casas noturnas, por serem lugares em que a razão sempre da lugar ao descontrole alcolico dos clientes e o descontrole emocional daqueles que estão em serviço.

É comum vermos seguranças truculentos agirem com violência, garçons que agem de má fé e gerentes que muitas vezes tratam mal os clientes expondo-os ao constrangimento.

Um cliente satisfeito dificilmente divulga o bom atendimento, enquanto que o insatisfeito normalmente não reclama, mas comenta com outros, repassa sua insatisfação para até 11 pessoas... e não volta mais!!!

Recentemente uma estilista que levava um grupo de amigos de Santa Catarina para conhecer uma casa noturna em Belém, foi tratada com arrogância pela direção da casa, pois queria uma informação e uma solicitação simples. Não se tratava de "cortesias de ingressos" e sim de uma simples solicitação, que sem qualquer sequela poderia ser atendida ou negada.

No mais alto patamar de arrogância a responsável pela casa virou as costas e ofendeu a cliente. Não sabemos os fatores psicológicos que a fizeram ter tal atitude, porém o grupo de clientes deu meia volta e foram para outro local, onde o assunto virou comentário pela metade da noite.

A simples atitude de um funcionário denigre a imagem de uma casa de shows, que teve alto investimento de seus proprietários e que não desejam ter o nome do empreendimento manchado por falta de ética profissional de seus colaboradores.

Abaixo alguns pontos importantes para que a qualidade no atendimento torne-se diferencial para uma boa gestão de negócios.

A qualidade no atendimento ao cliente - que é o diferencial face à concorrência - apresenta um elevado grau de dificuldade, mas com um leque de benefícios. Isto ocorre porque a qualidade no atendimento depende da atitude dos profissionais em todos os níveis. Caso uma empresa deseje ter esta qualidade, terá de passar por uma mudança cultural na que se caracteriza por ser lenta e complexa.
O profissional precisa tomar consciência de que a sua imagem e a da empresa estão intimamente relacionadas. Nenhuma outra organização irá querer contratar um profissional viciado, proveniente de uma empresa com imagem negativa, o comprometimento do colaborador com os resultados da organização é importante para a empresa e para a manutenção dos empregos, a interação de todos os sub-sistemas é um pré-requisito para a qualidade dos serviços ou produtos e para a qualidade no atendimento.

ÉTICA, QUALIDADE E CIDADANIA

O atendimento tem sua qualidade determinada por uma série de fatores sem os quais é temerário trabalhar, pois surge o risco de perder a clientela. São fatores que começam pela observância de preceitos éticos, através dos quais o cliente é respeitado; passa pela qualidade do produto ou serviço, sempre capaz de assegurar a manutenção do negócio; e chega até aos preceitos da cidadania, onde o Código de Defesa do Consumidor determinou uma nova relação de direitos e deveres no Brasil.
O consumidor passou a ser visto nos últimos anos como cidadão, que merece respeito e tem direitos estipulados até em lei específica. A despeito de ações anti-éticas, ilegais e exploradoras de muitos setores que ainda precisam viver certas experiências para poder compreender a nova realidade. Nesta nova realidade, há empresas que se destacam pela qualidade, crescem e se desenvolvem; enquanto outras teimam em agir mal e findam fechando as portas devido à fuga da clientela.
Apesar deste quadro, não é difícil nos depararmos com situações que nos surpreendem, pelo descaso, descuido, desprezo e desatenção com o cliente, em todos os ramos de atividades. Claro que encontramos também surpresas boas, onde o atendimento atinge aquilo que convencionaram chamar de encantamento do cliente. Como também nos deparamos com situações onde erros são reconhecidos e corrigidos pelos empresários. De qualquer forma, sempre podemos tirar lições no atendimento que nos é dispensado.
A nossa vida é, portanto, cheia de momentos onde exercemos o papel de clientes, às vezes sem perceber certos detalhes que fazem parte do relacionamento entre comprador e vendedor ou prestador de serviços. Mas é comum enxergarmos detalhes que têm significado determinante na qualificação do estabelecimento, principalmente nos dias atuais. Estamos cada vez mais voltados para a busca da excelência e esperamos a cada momento encontrar atendimento, produtos e serviços com a qualidade necessária ao cumprimento das funções às quais se propõem.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AUMENTO DA POPULAÇÃO CAUSARÁ FALTA COMIDA E COMBUSTÍVEL, DIZ ONU.



O mundo está ficando sem tempo para garantir que haja alimentos, água e energia para atender a demanda de uma população em rápido crescimento e evitar que 3 bilhões de pessoas sejam levadas à pobreza, advertiu um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas).

Enquanto a população mundial parece preparada para crescer dos 7 bilhões de hoje para quase 9 bilhões até 2040 e o número de consumidores de classe média aumentar em 3 bilhões nos próximos 20 anos, a demanda por recursos crescerá exponencialmente.

Mesmo para 2030, o mundo precisará de ao menos 50% a mais de alimentos, 45% a mais de energia e 30% a mais de água, de acordo com as estimativas da ONU, em uma época em que o ambiente em modificação cria novos limites ao abastecimento.

Se o mundo fracassar em lidar com esses problemas, o risco é condenar 3 bilhões de pessoas à pobreza, afirmou o relatório.

Os esforços rumo ao desenvolvimento sustentável não são nem fortes nem profundos o suficiente e, além disso, falta vontade política, disse um painel da ONU voltado à sustentabilidade global.

"O atual modelo de desenvolvimento global é insustentável. Para alcançar a sustentabilidade, é necessária uma transformação na economia global", diz o relatório.

"Fazer remendos nas margens não será suficiente. A atual crise econômica global oferece uma oportunidade para reformas significativas."

Embora o número de pessoas vivendo na pobreza absoluta tenha caído dos 46 por cento em 1990 para 27% da população mundial e a economia global tenha crescido 75% desde 1992, as mudanças no estilo de vida e nos hábitos do consumidor colocaram uma pressão crescente sobre os recursos naturais.

Há mais 20 milhões de pessoas desnutridas agora do que no ano 2000; 5,2 milhões de hectares de floresta são perdidos anualmente (uma área do tamanho da Costa Rica); 85% de todos os estoques de pescaria estão super-explorados ou foram esgotados; e as emissões de dióxido de carbono subiram 38% entre 1990 e 2009, o que aumenta o risco de elevação no nível das marés e de mais episódios de clima extremo.

O painel, que fez 56 recomendações para que o desenvolvimento sustentável seja incluído na política econômica o mais rápido possível, disse que é necessária uma "nova política econômica".

"Vamos usar a próxima cúpula do Rio+20 para dar início a essa transição global rumo a um modelo de crescimento sustentável para o século 21 do qual o mundo precisa tanto", disse Connie Hedegaard, a comissária da União Europeia para o clima, em resposta ao relatório, referindo-se a uma cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável em junho no Brasil.

Ação
Entre as recomendações, o painel pede que os governos concordem com uma série de metas de desenvolvimento sustentável que complementariam as oito Metas de Desenvolvimento do Milênio até 2015 e criariam uma estrutura para ação depois de 2015.

Eles devem trabalhar com organizações internacionais para criar uma "revolução perene", que ao menos duplique a produtividade ao mesmo tempo em que reduz o uso de recursos e evite mais perdas à biodiversidade, afirmou o relatório.

Os ecossistemas aquíferos e marinhos deverão ser administrados de maneira mais eficiente e deve haver acesso universal à energia sustentável até 2030.

Para tornar a economia mais sustentável, a precificação do carbono e dos recursos naturais deve ser estabelecida por meio de taxação, regulação ou esquemas de comercialização das emissões até 2020 e os subsídios ao combustível fóssil também devem acabar aos poucos até lá.

Os sistemas fiscais e de crédito dos países devem ser reformados para fornecer incentivos no longo prazo às práticas sustentáveis, assim como desincentivar as insustentáveis.

Os fundos de pensão públicos e de riqueza soberana, assim como os bancos de desenvolvimento e as agências de crédito para a exportação, devem adotar critérios de desenvolvimento sustentável a suas decisões de investimento, e as agências de controle do governo ou dos mercados de ações devem revisar as regulações para estimular o seu uso.

Os governos e cientistas também devem fortalecer a relação entre a política e a ciência ao examinar com regularidade a ciência por trás dos limites ambientais e a ONU deve considerar a possibilidade de nomear um conselheiro científico chefe ou um conselho para assessorar a organização, disse o relatório.

O documento está disponível no endereço http://www.un.org/gsp/.

Fonte: Nina Chestney - Agência Reuters
Em Londres

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CERIMONIAL DEFINE O SUCESSO OU O FRACASSO DE UMA FORMATURA


Com o crescimento do mercado de eventos de formatura, é normal que muitas empresas apareçam vendendo diversos serviços, porém o mais importante e o que os formandos devem ter mais cuidado é com a empresa de cerimonial.

O cerimonial é responsável por todo andamento do evento, além de auxiliar o cliente na escolha do local, do buffet e das atrações.

Em Belém existem muitas empresas comandadas por pessoas de má índole, que por motivos evidentes, não irei citar nomes. Mas aconselho aos formandos a exigirem contrato de prestação de serviços com todos os fornecedores.


Abaixo um texto de Carlos Alberto de Deus da EMPRESARIAL SHOWS E EVENTOS da cidade de Belo Horizonte.

CERIMONIAL
Muitas vezes, eventos que tinham tudo para terem sido um grande sucesso acabam gerando situações incômodas, com conseqüências graves. Em outras situações, podem simplesmente deixar transparecer certa desorganização, o que, por vezes, gera desconforto e apreensão. Um momento desagradável nunca é esquecido por aqueles que se vêem diante de fatos constrangedores ou incômodos durante a festa.
Alguns detalhes podem parecer pequenos se vistos isoladamente, mas fazem todo o conjunto da obra. É preciso que se atente desde os detalhes da decoração até o cumprimento de normas de segurança ou até mesmo leis, que freqüentemente são ignoradas ou desconhecidas.

Para que sua festa dê à sua turma e a todos seus convidados apenas lembranças agradáveis, aí vão algumas dicas:


1 - House Mix

A house mix é a plataforma de controle de som, que fica localizada no centro do salão. O mapeamento das mesas é feito bem antes do evento acontecer e tanto os formandos quanto os organizadores muitas vezes se “esquecem” desse detalhe. No momento de montar o salão, quando se dão conta da house mix, pode ser necessário mudar todo o mapa das mesas do evento.

2 - Manobrista


É desaconselhável que os formandos contratem os manobristas diretamente, pois quaisquer danos ocorridos nos automóveis dos convidados, a responsabilidade será da comissão de formatura e não dos manobristas. Caso o espaço alugado para o evento já possua manobristas exclusivos, então recomenda-se que conste no contrato que a responsabilidade é exclusiva da empresa que oferece o serviço, de forma a isentar a comissão de formatura de quaisquer responsabilidades.

3 - Marcação da hora


O tempo necessário para que todos os convidados estacionem e adentrem-se ao local do evento é de aproximadamente uma hora. Portanto, é aconselhável que as portarias sejam abertas 1 hora antes do início do evento. É interessante que essa informação conste no bilhete individual de cada convidado.

4 - Montagem


Na hora de contratar o espaço para realização do baile, a comissão deve estar atenta para o tempo disponibilizado antes do evento para que sejam montados os equipamentos de som, palco, decoração, mesas, etc. As equipes de montagem deverão ter pelo menos 12 horas para trabalhar antes do início da festa.

5 - Pagamento de quebras e perdas


Ao planejar a arrecadação de recursos, a comissão não pode se esquecer de que serão cobradas à parte as quebras e perdas durante a festa. Atentando-se para isso, evita-se que os membros da comissão tenham que arcar com os prejuízos após a dissolução da mesma.

6 - Ambulâncias e paramédicos


A presença de ambulâncias e paramédicos são exigidas nos bailes. Ao se fazer a comparação de valores para escolher a empresa de cerimonial ou assessoria a ser contratada, a comissão deve estar atenta à inclusão ou não deste item, que garante atendimento médico aos convidados que por ventura se machucarem ou se sentirem mal durante a festa.

7 - Momento de valsas


Não há um momento exato para a dança das valsas. A empresa de cerimonial deve ficar atenta para escolher a melhor oportunidade e cuidar para que todos os formandos sejam convocados para a pista junto com seus respectivos pares. A banda deve estar sempre preparada para executar as valsas segundo as ordens da empresa organizadora.

8 - Direitos Autorais


Em bailes de formatura que tenham uma banda no palco, é obrigatório o pagamento da taxa ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de Direitos Autorais), referente aos direitos autorais das músicas tocadas. A taxa pode variar de acordo com características do evento, tais como: localização, número de pessoas, etc. É bom que a comissão esteja atenta às variações desses valores ao se definir salão de festas e número de convidados.

9- Segurança

Os seguranças devem ter a autorização da Polícia Federal para exercer a atividade com qualidade e garantia. Seguranças não autorizados podem, ao invés de auxiliar, causar tumultos ainda maiores por conduzirem as situações de modo errado. Lembre-se: um bom segurança não é aquele que somente aparenta ter força, mas o que sabe utilizá-la em prol do bem estar dos participantes do evento.

Em caso de calouradas ou shows é obrigatória a presença da Polícia Militar, que deve ser paga pelo número de policiais, tamanho do evento e tempo de duração. É necessário também um projeto feito por especialistas, especificando localização de palco, extintores de incêndio, saídas de emergência, etc. Esse projeto deve ser aprovado pelo Corpo de Bombeiros. No caso de interferências no trânsito, também é obrigatória a presença da empresa de trânsito municipal (quando houver). Todos esses procedimentos são indispensáveis para se conseguir alvará para o evento.

10 - Presença de menores

Em eventos como bailes de formatura, é comum a presença de convidados menores de 18 anos. Portanto, é importante providenciar alvará junto ao juizado de menores para que não haja situações desagradáveis, pois qualquer festa pode ser fiscalizada a qualquer momento.

11 - Energia


É necessário que os formandos verifiquem com o produtor a necessidade de geradores de energia, que são bastante úteis principalmente em épocas de chuva, quando são mais freqüentes as interrupções no fornecimento de energia. Esse detalhe pode salvar a festa, pois muitas vezes a rede elétrica do local atende às necessidades de energia em condições normais de funcionamento, mas não estão preparadas para grandes shows.

Passo a passo: o que fazer primeiro?

Dentre as diversas providências que devem ser tomadas para realização de um evento, deve-se atentar para a ordem e uma antecedência mínima em que os fornecedores de serviços devem ser contratados. Verifique os prazos dos principais itens de uma festa:
1º - Banda: a escolha deve ser feita de 8 meses a 2 anos antes do evento, pois é preciso visitar, avaliar, negociar e fazer a contratação. A disponibilidade da banda escolhida na maioria das vezes é o que determinará a data da festa.

2º - Local da festa: após escolhida a banda, deve-se procurar um espaço que atenda às necessidades da turma, levando em consideração a quantidade de convidados, as instalações, tais como cozinha, banheiros, espaço para palco, estacionamento, etc. A escolha do local em alguns casos poderá ser feita antes da contratação da banda. Essa prioridade dependerá da disponibilidade das empresas de banda e espaços para eventos.

3º - Buffet: após definido a banda e o salão, deve-se escolher um buffet. Recomenda-se a degustação dos salgados, doces e pratos quentes para a escolha do cardápio da festa. Uma boa idéia é pedir referências da empresa à turmas já atendidas previamente. É importante que nenhum detalhe sobre o número de convidados seja omitido ou mascarado, pois a falta de comida ou bebida em uma festa é uma grande gafe.

4º - Cerimonial: responsável pela produção e organização das solenidades. Procure referências das empresas antes de contratar. Recomenda-se a contratação de empresas com experiência comprovada na realização de formaturas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

BBB. O LIXO INVADE OS LARES BRASILEIROS.


O Blog do João, não poderia ficar de fora da discussão do excesso de lixo que o povo é induzido a assistir. A foto acima não foi postada por engano. Ela representa o real significado desses programas na vida do ser humano).

A mídia programa o cérebro das pessoas com programas do tipo do "BBB"o para que as pessoas percam a capacidade de pensar. É uma forma de controle social, pois a partir daí começam a lançar moda, destruir valores e banalizar o sexo e a violência. O resultado disso reflete diretamente no aumento da prostituição, pedofilia e assassinatos. O sistema cria o monstro que depois tenta combater o monstro A morte do pensamento é pior que a morte física.

Abaixo reproduzo texto de Luis Fernando Veríssimo.

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. [...] Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
[...] Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de tra$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores). Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A HORA E A VEZ DO PARÁ


O ano de 2012 promete ser um dos mais promissores para a música paraense. Um fenômeno chamado Gaby Amarantos vem conquistando o que há de mais difícil para um artista popular: a crítica e a mídia.

O que é mais interessante é que Gaby, está levando para o resto do Brasil, não só o tecnobrega, e sim toda a pluralidade cultural que é produzida no Pará, em um trabalho bem feito com excelentes arranjos e uma nova leitura de sucessos como Merengue Latino, que conseguiu ficar ainda melhor do que já era.

Por outro lado temos o Terruá Pará, idealizado pelo Governo do Pará, permitiu que diversos artistas, de diversas vertentes musicais, realizassem um grande espetáculo em São Paulo, dando a oportunidade não só aos paraenses de mostrar sua arte, mas presenteando o maior aglutinador de cultura do Brasil com o conhecimento da rica diversidade musical do Pará.

Fica a esperança de que Gaby seja o elo que faltava para que a música paraense seja definitivamente reconhecida e valorizada no Brasil.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

MÍDIA DIGITAL: AQUI, ALI E EM TODO O LUGAR.


COM A POPULARIZAÇÃO DA MÍDIA DIGITAL, AS EMPRESAS LEVAM SUA MARCA INSTANTANEAMENTE E 24 HORAS POR DIA ATÉ O CONSUMIDOR. O DESAFIO É DIFERENCIAR SUA MENSAGEM FRENTE AOS CONCORRENTES.

Por Júlio Gama

NO LIVRO POSITIONING, o maior best-seller da história do marketing, o estrategista norte-americano Jack Trout diz que nos transformamos em “uma sociedade com excesso de comunicação” e sugere que a única saída para uma empresa diferenciar sua marca é
posicionando-a dentro da cabeça do seu consumidor. Isso foi em 1980. Daí surgiu o conceito de posicionamento de marca. Se já era difícil reforçar sua marca há quase 30 anos, quando as opções de mídia eram basicamente TV, rádio, jornal, revista e outdoors, imagine agora com a mídia digital, a internet, as conexões wireless, o YouTube, a popularização dos celulares e os PDA’s. Sim, o mundo está mais complicado.
“Em 1981, a sobre-exposição de mensagens fazia com que o consumidor rejeitasse aquelas que não considerasse interessantes, para aceitar as de interesse direto”, diz o mexicano Fernando Mariscal, vice-presidente sênior da Trout & Partners, braço latino-americano da agência de Jack Trout. “Hoje, o contexto é muito mais complicado, não apenas porque a sobre-exposição é maior, mas porque o perfil do consumidor é muito
mais sofisticado.” Um exemplo dessa complexidade é que antes havia entre quatro e dez canais de TV e hoje são mais de 500. O conselho de Jack Trout ainda é válido. O desafio agora é como fazer sua marca sobressair nesse infinito mundo digital.

Quando bem utilizada, a internet é uma ferramenta eficaz para chegar a esse sofisticado consumidor. A campanha da cerveja brasileira Antarctica é um bom exemplo. Junto à sua campanha publicitária tradicional, a empresa criou em seu website um bar virtual do qual a anfitriã é a atriz brasileira Juliana Paes, a bela morena que já posou nua para a Playboy. De sua base de dados, a Antarctica disparou e-mails para 200 mil usuários
cadastrados no seu site, cujo título era “A nova tatuagem da Juliana Paes”. Os usuários liam o e-mail e o repassavam para os amigos com um vídeo da morena sentada num bar com uma garrafa de cerveja Antarctica à sua frente e que no final mostrava a tatuagem... o nome do amigo que enviou o e-mail escrito no ombro dela.
Em seguida, a atriz olha para a câmera diz pra você não ficar triste porque ela
tem outra tatuagem para lhe mostrar e chama o Paulão, um garçom com corpo de leão-de-chácara e jeito efeminado, que baixa dois dedos da parte de trás da calça e mostra a tatuagem dele, claro, com o seu nome. A essa altura o seu amigo está morrendo de rir da sua cara de bobo, enquanto você repassa o e-mail para outro amigo. Assim, a mensagem da Antarctica vai se espalhando pela nada pequena comunidade masculina
que adora cerveja e Juliana Paes.

MARKETING VIRAL
O anúncio da cerveja brasileira seria impensável há alguns anos, quando o pequeno número de computadores pessoais e a baixa penetração da internet não justificariam o investimento. A história agora é outra. Só no mês de dezembro, quando a campanha entrou no ar, o número de pageviews no website da Antarctica saltou de 100 mil para 2 milhões e um total de 1,3 milhão de internautas recebeu o e-mail da Juliana Paes. “[Por causa desse anúncio] Um grupo muito grande de pessoas teve contato com os valores da marca”, diz Stella Barny, gerente de marketing da Antarctica.
Esse tipo de anúncio é o que se define por marketing viral, quando o próprio
consumidor se encarrega de passar a mensagem adiante e, no caso da Antarctica, faz parte de uma campanha maior em mídia tradicional e que em 2006 fez com que a Antarctica fosse a marca de maior crescimento da Ambev, com 3 pontos porcentuais.
Só nos Estados Unidos, a indústria do marketing viral cresceu de praticamente zero, há três anos, para US$ 150 milhões em 2006.
Na Europa, uma das novas agências especializadas no tema, a inglesa The
Viral Factory, cobra de US$ 250 mil a US$ 500 mil para criar vídeos que,
eles garantem, virarão hits na internet.
Para Mariscal, da Trout & Partners, o marketing viral é muito efetivo quando
atinge um grupo de consumidores que a concorrência ainda não atendeu.
Para Jaime Troiano, sócio-diretor da Troiano Consultoria de Marca, em São
Paulo, o marketing viral é o boca-a-boca do século 21, com uma diferença: Antigamente você torcia para acontecer e hoje você o planeja”, diz. Troiano ensina cinco pontos essenciais que uma empresa deve seguir para posicionar sua marca nesses tempos de extrema competição.
1) Marca não começa no mercadomas da porta da rua pra dentro, o chamado “brand inside”. Os funcionários têm de entender clara e precisamente a natureza da marca e da promessa que ela faz para o mercado e eles devem ser os primeiros e principais porta-vozes dela. A marca deve ser a representação de algo que a empresa faz e em que acredita, de forma que os funcionários sejam os primeiros apóstolos dessa cultura e de seus valores.

2) O posicionamento depende da compreensão profunda de quem é o seu cliente de carne e osso. As empresas ainda se apegam muito a classificações sócio-demográficas, como sexo, renda, idade, classe social e ocupação. Hoje, as pessoas se diferenciam mesmo dentro de uma classe social e faixa de idade por critérios de atitude e de valores.

3) Esqueça os planos de comunicação simplistas, como no passado. Hoje é preciso ter uma comunicação integrada usando ferramentas às quais o consumidor está exposto no seu dia-a-dia desde quando levanta até quando vai dormir. O celular, por exemplo.

4) Analise a comunicação dos concorrentes. Saiba o que os seus concorrentes estão fazendo na área de comunicação para você ter o máximo de “uniqueness” possível dentro do plano de comunicação e evite repetir as mesmas fórmulas.

5) Consistência. Posicionamento depende de consistência, de conseguir preservar a forma de dizer as coisaspara os seu consumidor; não complicar o processo de percepção que ele tem da sua marca.

A VEZ DO CELULAR
Não há dúvidas que a mídia digital e a popularização dos aparelhos wireless estão revolucionando o conceito de posicionamento de marca criado por Trout nos anos 80. Aí entra o telefone celular e o conceito de mobile marketing que, nas palavras do brasileiro Gil Girardelli, diretor-geral da agência Permission Inteligencia Digital, quebrou o conceito de que a pessoa deve estar sentada lendo revista, assistindo TV ou mesmo passando por algum lugar para receber uma informação. “Hoje a mensagem chega no seu bolso, no seu celular, que passa mais tempo do seu lado do que até a chave da sua casa”, diz Girardelli.
Não é à toa que uma pesquisa da revista on-line brandchannel.com revelou que, das cinco marcas de maior impacto em 2006, quatro são de empresas digitais. A revista perguntou a 3.625 profissionais de marketing qual marca teve o maior impacto em suas vidas em 2006. O resultado foi, por ordem: Google, Apple, YouTube e Wikipedia. Em quinto lugar aparece Starbucks.
Com a expansão da tecnologia wireless, no entanto, chegam dois desafios aos profissionais de marketing. O primeiro é descobrir qual o melhor formato para enviar sua mensagem. “Como fazer um comercial de 30 segundos numa tela de 6 centímetros?”, pergunta Girardelli. “Isso está mexendo com toda a cadeia de comunicação.” A agência Permission Inteligencia Digital, por exemplo, prepara campanhas digitais a partir do
Brasil para 22 países. Para um de seus clientes, uma grande empresa italiana, a agência dispara mensagens de texto em formato SMS para celulares de clientes na Itália, com texto revisado e aprovado pela empresa naquele país. Para o anunciante, a vantagem é o custo no Brasil, 70% mais baixo que na Europa.
Além disso, o mobile marketing tem resposta imediata do público-alvo e ainda economiza nos gastos da mala-direta tradicional, como gráfica, postagem, impressão, etc.
O segundo desafio do mobile marketing está no limite que a empresa deve ter para não importunar o consumidor com mensagens indesejáveis no seu celular. Quem perde preciosos minutos de seu dia deletando spams pode imaginar que pode ser ainda mais irritante receber mensagens não solicitadas em eu celular. Nada pior para a sua marca
do que provocar a ira do consumidor. “Aí entra o bom senso”, diz Girardelli.
Como se sabe, porém, nem todas as empresas conhecem essa expressão.
Nesse caso, a resposta negativa do consumidor será tão imediata quanto o envio de sua mensagem. E quem perde é a sua marca.

(*)Júlio Gama é formado em Comunicação Social, com especialização em Jornalismo pela Faculdade da Cidade no Brasil, com um MBA em Negócios Internacionais pela Florida International University, em Miami. Cursos de especialização incluem Planejamento Estratégico de Comunicação pela Universidade de Georgetown, Washington, DC.
Fundador e diretor geral da Americas Communications. Antes de criar a empresa, Julio ocupou o cargo de Diretor da Prática de Comunicação Corporativa na Newlink Communications, em Miami.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

REVOLUÇÃO NO TRANSPORTE PÚBLICO TEM PRIORIDADE SOBRE O CARRO


BRASÍLIA – O eleitoral ano de 2012 começa com uma pequena revolução numa das áreas mais importantes no cotidiano do cidadão comum, que irá às urnas em outubro escolher o prefeito da cidade em que mora. Uma lei federal publicada quarta-feira (4) inverte uma lógica não escrita mas praticada de que o uso de carro particular orienta políticas públicas em transportes.

A partir de abril, quando a lei entrar em vigor, o transporte coletivo terá de ser o grande protagonista nas decisões governamentais sobre o deslocamento urbano das pessoas.

Para desestimular o uso de carros e arrumar dinheiro para investir mais em ônibus, metrô e trem, estados e municípios poderão taxar a circulação de veículos em determinadas áreas, como fazem cidades como Londres e Estocolmo, por exemplo.

Pela mesma razão – e também por motivos ambientais –, estados e prefeituras estão autorizados a montar um rodízio de carros, algo que, se já existe hoje em São Paulo, carecia de um respaldo jurídico mais firme para sobreviver a contestações na Justiça, como agora acontece com a sanção da lei que cria a Política Nacional de Mobilidade Urbana.

O preço das passagens de transporte público, especialmente de ônibus, também vai sofrer impacto com a nova lei – e para melhor, do ponto de vista dos cidadãos. A empresa que opera as linhas municipais terá de ser escolhida pela prefeitura por licitação, não mais por uma opção individual do prefeito. Vencerá a concorrência quem oferecer o menor preço.

A exigência de licitação vai tornar o processo mais transparente. Hoje, a empresa é escolhida só com base no desejo da prefeitura, que fixa a tarifa periodicamente a partir de estimativas sobre quantidade de passageiros e o custo para transportar cada um.

Essa prática torna o processo mais sujeito a interesses políticos. Em São Paulo, por exemplo, o prefeito Gilberto Kassab, cujo mandato termina este ano e certamente tentará ver um aliado como sucessor, não prevê reajuste da tarifa. Fez o mesmo em 2008, quando se reelegeu, prometendo manter a tarifa congelada em 2009. Mas no ano seguinte subiu-a em 17%.

Esse modelo desregulado permitiu que, nos últimos dez anos, a tarifa de ônibus subisse 50% acima do índice de inflação calculado com base no custo de vida das pessoas de baixa renda, chamado de INPC. E desestimula a eficiência das empresas operadores, porque se o custo de transportar um passageiro cai, a tarifa pode baixar também.

Outro ganho potencial para o usuário com a nova lei é a imposição de que em todos os pontos de ônibus e estações de trem e metrô e trem haja informações gratuitas sobre itinerários, preços, horários e possibilidade de integração com outros meios de transporte.

Problemas
O objetivo da Política Nacional de Mobilidade Urbana é aproximar governo federal, estados e prefeituras no planejamento e execução de ações de transporte público, definindo o que cada um faz e como podem agir em conjunto, tendo em vista que é de interesse da população que as cidades fiquem mais amigáveis.

Pelo texto, o governo federal está agora obrigado por lei a dar suporte a financeiro a investimento em metrô, algo que vinha sendo feito desde o segundo mandato do ex-presidente Lula mas por uma opção do próprio governo.

Mas também há alguns problemas na lei resultante de projeto enviado pelo governo Lula ao Congresso em 2007 e que teve aval dos deputados em agosto de 2010 e dos senadores, em dezembro do ano passado. Alguns estão apontados em estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo o Ipea, a lei erra ao não prever fontes de financiamento estáveis e permanentes para investimento em transporte público, por exemplo. E, graças a uma decisão da presidenta Dilma Rousseff a pedido da equipe econômica do governo, a lei publicada erra ao não atacar o que seria uma distorção do sistema de transporte coletivo atualmente: quem usa e paga subsidia quem usa e não paga.

Essa é uma questão politicamente delicada de ser resolvida. Hoje, as tarifas de ônibus e metrô são definidas com base no fluxo de passageiros, mas há certas categorias de usuários que têm acesso livre (idosos, policiais militares, carteiros) ou com desconto (estudantes).

Consequência: o usuário comum, em geral pessoas de renda menor, paga uma tarifa fixada num valor que também cubra o custo de transportar idosos e estudantes de forma privilegiada. “Isso traz um caráter regressivo à política tarifária”, diz o estudo do Ipea.

A lei votada no Congresso tentou resolver isso definindo que o custo do subsídio deveria ser pago por toda a sociedade, já que é ela, a sociedade em geral, que decidiu tratar de forma diferenciada policiais, carteiros, estudantes, idosos. Para isso, deveria ser aprovada uma lei específica apontando a origem dos recursos que cobririam o subsídio.

Essa proposta já fazia parte do texto original do projeto enviado pelo ex-presidente Lula ao Congresso. Mas acabou vetada da lei, quando sancionada por Dilma - que há quatro anos era chefe da Casa Civil, responsável por formatar todos os projetos do governo – a pedido do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que também já era ministro em 2007 e, na ocasião, assinara o projeto junto com o ministro das Cidades de então, Márcio Fortes.

Fonte: Carta Maior

ENGODO DEMOCRÁTICO


As democracias não se expressam, não se traduzem apenas pelo voto. A Alemanha nazista ascendeu pelo voto. O fascismo, na Itália, também. Em nenhuma das circunstâncias históricas havia o menor sinal, o menor laivo, a mais remota aparência de democracia. No Brasil do regime militar, sempre houve eleições para cargos parlamentares. Não havia, porém, democracia, a não ser uma tal democracia relativa, palavrão que inventaram para chancelar censura, torturas e cassações de mandatos, entre outras coisas.


Na Venezuela, Hugo Chávez está aferrado ao poder. Chegou lá pelo voto. De lá que não quer sair - também pelo voto. Ali não existe democracia. Existe uma ditadura que se vale dos instrumentos democráticos para tentar um disfarce. Por lá também impera a censura. Jornalistas opositores não apenas são ameaçados como são tratados, literalmente, à base de porretes.O Estado de Direito é o suporte das democracias. O Estado Democrático de Direito, este sim, é capaz de instalar um ambiente em que a equivalência de poderes permite até mesmo a quem não tem poder, como o cidadão comum, o pleno exercício de direitos que expressem legitimamente a representatividade popular.


Se assim não for, teremos expostos verdadeiros engodos democráticos, ou democracias de faz de conta, que servem de máscaras para esconder tiranias - escancaradas ou nem tanto.A Rússia tem sido um caso emblemático de país que ingressa aceleradamente na zona cinzenta - e portanto perigosa - que subverte os valores democráticos e os transforma em valores que alimentam os podres e ilegítimos poderes de governantes.Recentemente, milhares e milhares de pessoas têm tomado as ruas das principais cidades da Rússia, inclusive Moscou, a capital.


Os manifestantes reclamam de monstruosas, indisfarçáveis fraudes. Urnas foram entupidas de votos antes mesmo de começar a eleição. Em algumas seções, foramcaptadas imagens de mesários preenchendo cédulas eleitorais. Um escândalo.As fraudes nas eleições parlamentares permitiram ao Partido Rússia Unida, do primeiro-ministro Vladimir Putin, manter uma supremacia que, se não é mais tão ampla, ainda é expressiva.O que faz o governo democrata de Putin? Em relação aos críticos internacionais, praticamente os manda calar a boca, porque não teriam o direito sequer de dar um pitaco em relação a crimes eleitorais configurados.


Em relação aos opositores, ordena que sejam presos. E milhares, de fato, têm ido para a cadeia nos últimos dias, desde que os protestos começaram a aumentar. Em relação às fraudes em si, o presidente russo, Dmitri Medvedev, mandou abrir inquérito para investigar as denúncias. Ele considera, no entanto, que as malfeitorias não foram de tal dimensão, a ponto de justificar a anulação das aleições parlamentares.Ninguém sabe como é que o presidente russo tem tanta certeza disso. Ninguém tem o menor conhecimento dos elementos de que dispõe para fazer tal afirmativa.


Mas todos têm absoluta certeza de que não se pode apostar na veracidade dos juízos do presidente da Rússia, eis que ele próprio tem interesses políticos diretamente vinculados ao resultado da disputa parlamentar, decisiva para o próximo pleito, que vai eleger o sucessor do próprio Medvedev. Da mesma forma, não se pode considerar como plausível a irresignação do governo russo diante das críticas que vem recebendo de países verdadeiramente democráticos.


Externar repulsa às fraudes eleitores ocorridas na Rússia nada mais é do que conferir relevância ao peso do país no concerto das nações. E se faz necessário, além disso, para mostrar com clareza a distinção entre democracias genuínas e as que usam disfarces, fraudando eleições e corrompendo os valores democráticos de forma escandalosa e, portanto, inaceitável.

Fonte: O Liberal