segunda-feira, 15 de agosto de 2011

OFENSA A MODERAÇÃO


O Senado tem saída para tudo. Se tem saída até para senadores que quebram o decoro, imaginem então quando se trata de esquivar-se de suas obrigações quando terceiras pessoas - estranhas, portanto, ao âmbito do Senado - estão envolvidas.Caso recente comprova isso. Envolve o senador Roberto Requião (PMDB-PR).

No dia 25 de abril, o senador viu-se diante de repórter que lhe fez pergunta de interesse público, relacionado ao pagamento de pensão a ex-governadores.
Incomodado com a pergunta, o senador arrancou o gravador do jornalista e ameaçou espancá-lo. “Você quer apanhar?”, desafiou o parlamentar. Não satisfeito, passou a chamar o repórter de “engraçadinho” pela internet.


O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal foi ao Senado, pedindo providências para reparar conduta flagrantemente ofensiva à liberdade e dignidade profissionais.O que fez o Senado, diante do pedido do sindicato? Nada. Resolveu mandar para os seus arquivos o pedido de advertência ao senador, sob a argumento de que a petição apresentada pela entidade não atende aos requisitos previstos para punir o parlamentar.Advogados também sustentaram que não há provas de que o senador agrediu o jornalista, muito embora o repórter tenha gravado o trecho da entrevista na qual o parlamentar toma o gravador de suas mãos.

O Senado, está claro, não apurou o que tinha o dever de apurar porque a apuração, simplesmente, não lhe interessou. Como já ocorreu em tantas outras oportunidades, o Senador tergiversou, escamoteou, jogou o corpo pra cá e pra lá... E nada fez porque, repita-se, não era de seu interesse fazê-lo.


Quem fica de frente para o prédio do Congresso Nacional, em Brasília, identifica o recinto do Senado como aquele que fica do lado esquerdo de quem olha.
É aquele prédio em que a abertura da concha estava voltada para baixo, como se fosse um chapéu instalado sobre o prédio do Senado. Essa geometria tem um simbolismo, um significado: quando projetou a concha emborcada, Niemayer pretendeu mostrar que ali está uma Casa vocacionada para a introspecção, para a reflexão, para a maturação de ideias que tenderiam a ser mais consistentes, porque decorrentes da ponderação, da moderação, do comedimento, da racionalidade.


Mas que nada! O Senado, nos últimos anos, tem oferecido demonstrações evidentes de que faz tudo ao contrário do que eventualmente poderão representar seus emblemas, presentes em instalações arquitetônicas que já se transformaram em pontos turísticos. O escândalo dos atos secretos representam uma evidência disso. Nunca antes, jamais, em tempo algum, na história do Senado, constatou-se uma catarata tão copiosa de irregularidades.

Mas o resultado disso foi a punição de três ou quatro gatos pingados, que sabidamente ultrapassaram os limites da boa ética porque, certamente, tinham no mínimo a conivência de Suas Excelências. A mesma coisa acontece agora. O senador fez o que fez porque sabia que, se o fizesse, o espírito de corpo é que prevaleceria, caso alguém ou alguma entidade questionasse seus procedimentos.


E foi exatamente o que aconteceu, para a estupefação geral. E para o espanto de todos, sabe-se que o Senado, um ambiente onde se parlamenta, onde se trava o contraditório, tem horror a perguntas que são de interesse público, independentemente do incômodo que possam provocar. Senadores têm o dever legal, constitucional de legislar. Aos jornalistas, igualmente, assiste o dever - assegurado pelo princípio constitucional da liberdade de Imprensa - de fiscalizar as ações dos homens públicos.

No caso concreto, o senador resolveu eximir-se dessa responsabilidade agressivamente. E o Senado acaba por chancelar sua conduta.
Eis mais uma prova de que o Senado faz tudo ao contrário

Fonte: O Liberal

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