segunda-feira, 8 de agosto de 2011
CABIDES PARTIDÁRIOS
Mais um demitido no Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit).
É o 20º que sai, depois da revelação do esquema de corrupção sem precedentes no Ministério dos Transportes e áreas sob sua órbita de influência.
Desta vez, o demitido foi o coordenador geral de Operações Rodoviárias do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit), Marcelino Augusto Santa Rosa. Ele perdeu o cargo após publicação de reportagem mostrando o envolvimento de sua mulher em negócios com o Dnit. Ela seria procuradora de oito empresas contratadas pela autarquia, a maioria ligada à sinalização de rodovias.
Demissões assim, em média uma por dia - ou até mais - em apenas um só setor da administração pública, nunca antes, jamais, em tempo algum se se viu na História desta República permanentemente engolfada em corrupção.
Se isso não é uma limpeza, uma vassourada, uma faxina geral, então o que é? São apenas 'ajustes', diz o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.
Todo mundo sabe que o ministro usa linguagem, digamos, protocolar. Porque os 'ajustes' a que ele se refere não passam mesmo de limpeza, de vassourada, de faxina geral.
A mesma linguagem protocolocar, rebuscada, meio enigmática foi usada recentemente pelo então diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot - ele próprio integrante da lista dos 20 que já saíram -, ao comparecer perante comissão do Congresso.
Quando se referiu ao superfaturamento de obras, fato comprovado por ninguém menos que a presidente da República, Dilma Rousseff, Pagot disse assim: 'Obviamente, como fazia bastante tempo que a própria presidente não comparecia a uma reunião daquele tamanho que foi feita, eu não me surpreendi de ela ter se admirado que algumas obras estavam com o escopo bem superior aos registros iniciais que constavam nos balanços do PAC.'
'Escopo bem superior aos registros iniciais que constavam nos balanços do PAC', na elegante formulação idiomática do então diretor- geral do Dnit, é expressão que significa superfaturamento. Sem tirar nem pôr.
De que adianta autoridades capricharem no verbo para amenizar certas situações? De nada adianta. A sociedade pode até não entender ao certo o que agentes públicos dizem, mas percebe claramente o que eles fazem.
Tentar esconder o Sol com a peneira apenas contribui para aguçar a curiosidade e lançar no descrédito quantos imaginam que podem tirar por menos, quando se trata de punir deslizes éticos intoleráveis.
No caso específico da razia que o Partido da República (PR) promoveu na área dos Transportes do governo Dilma Rousseff, fica evidente, uma vez mais, a necessidade de se profissionalizar a administração pública, que historicamente é partidarizada no Brasil.
A justificativa apresentada pela classe política é a de que a democracia representativa implica a necessidade de alianças. E na conformação dessas composições - que em tese podem até ser legítimas -, a distribuição de cargos é a principal, senão a única moeda de troca.
As deformações, as transgressões, as extrapolações de limites éticos aceitáveis começam por aí; aliás, começam e terminam justamente aí.
Por quê? Porque, muito embora a palavra e a decisão finais sejam do chefe do Executivo, os partidos é que indicam seus apaniguados para ocupar cargos de relevância. E dificilmente as indicações são recusadas, o que não significa que sejam bem-vindas.
Ou será que alguém imagina que a presidente da República se orgulha de ter em seu governo um ministro como o do Turismo, que usou dinheiro público para bancar uma festa do arromba dentro de motel em São Luís do Maranhão?
O cabide partidário em que se transformou a área dos Transportes, até aqui fatiada para o PR, comprova que práticas como essas são deletérias. E precisam acabar.
Fonte: O Liberal
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