sábado, 30 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

NORUEGA, ISLÃ E A AMEAÇA QUE NASCE NO OCIDENTE


Há alguns anos, T J Winter, respeitado professor de Cambridge, fez palestra fascinante dirigida a professores e alunos de ciências humanas da Universidade de Leicester, sob o título de “O Islã e a ameaça que nasce no Ocidente”. O título chamava a atenção para ameaça diferente do slogan repetido (então, como hoje) “o Islã e a ameaça que nasce no Oriente”. Evidentemente se saberá mais nos próximos dias, mas o que se sabe hoje é que o assassino é “norueguês, louro, de olhos azuis”, com “tendências políticas de direita e convicções antimuçulmanas”. O artigo é de Ibrahim Hewitt.(Al-Jazeera)

Divulgar, antes de qualquer investigação e a partir de depoimentos de testemunhas traumatizadas que esse ato assassino foi “ato de um único louco” impede qualquer estudo mais detalhado das motivações do assassino.

Há alguns anos, T J Winter, respeitado professor de Cambridge, cujo nome muçulmano é Abdal Hakim Murad, fez palestra fascinante dirigida a professores e alunos de ciências humanas da Universidade de Leicester, sob o título de “O Islã e a ameaça que nasce no Ocidente”. Já o título chamava a atenção para ameaça diferente do slogan repetido (então, como hoje) “o Islã e a ameaça que nasce no Oriente”.

Foi nova abordagem que, em poucas palavras, ilustrou que, historicamente, sempre houve agressão maior da Europa contra o mundo muçulmano, que o contrário. Winter/Murad apresentou várias provas, de fontes impecavelmente dignas.

Voltei a pensar hoje nas palavras de Winter/Murad, quando lia as notícias sobre o terrível atentado a bomba e o tiroteio na Noruega, onde, evidentemente, as primeiras suspeitas foram de que os atentados tivesse algo a ver com “o terror islâmico”. Evidentemente se saberá mais nos próximos dias, mas o que se sabe hoje é que o assassino é “norueguês, louro, de olhos azuis”, com “tendências políticas de direita e convicções antimuçulmanas”.

Mas já se disse que as intenções do homem nada teriam a ver com esses “traços”, nem com seus postados em “páginas da internet com tendências cristãs fundamentalistas”: eventuais influências “terão de ser investigadas com cuidado”. Exatamente o que se ouviu quando do atentado de Oklahoma, em 1995.

Sem qualquer fundamentação e muito estranhamente, o criminoso já está descrito pela mesma autoridade norueguesa como “um louco”. É bastante possível que seja louco, mas esse ‘diagnóstico’ automático é um dos modos pelos quais as motivações de crimes de ódio podem ser apagadas da história, antes mesmo de chegarem a tomar forma na consiência das pessoas.

Fechar o livro
Em 1969, por exemplo, um judeu australiano que pôs fogo na mesquita Al-Aqsa em Jerusalém, também foi sumariamente absolvido como “um louco” e internado em hospital psiquiátrico. Fim da notícia. Os judeus da direita fundamentalista que haviam planejado destruir a mesquita, e o Domo da Rocha, ali perto, sobreviveram mais um dia.

Suspeito que acontecerá coisa semelhante ao terrorista norueguês; seus laços com a extrema direita e com cristãos fundamentalistas serão apagados, por irrelevantes. Os crimes, como leremos em todos os jornais, serão descritos como ato de “pessoa desequilibrada” que “agiu individualmente”. Ergo, a única ameaça que continua a pesar sobre a civilização é a “ameaça terrorista” “dos islâmicos”. Ergo, o foco de toda a legislação e de todos os esforços antiterror deve continuar apontado contra o mundo muçulmano e as comunidades muçulmanas na Europa e nos EUA.

Se não nos manifestarmos e permitirmos que isso aconteça, estaremos prestando grave desserviço ao mundo, no mínimo porque a nova direita cresce em todo o ocidente – e Oklahoma foi prova de que essa nova direita é capaz de imensa destruição.

Imigrantes neonazistas da Europa Oriental continuam como sempre muito ativos em Israel, onde o governo, ao mesmo tempo em que deplora pelos jornais essa atividade da extrema direita, está, de fato, a caminho, a passos largos, da mesma extrema direita. Há ministros que pregam a limpeza étnica dos palestinos, para purificar Israel como “estado judeu”; preciosos direitos humanos, pelos quais o mundo tanto lutou, são apagados em nome da “segurança do estado judeu”; criminosos uniformizados são literalmente absolvidos ‘preventivamente’ dos assassinatos que cometem repetidamente.

Tudo isso acontece com a aprovação de governos ocidentais os quais, eles mesmos, mostram também tendências direitistas – o duplifalar, sempre que se trata de ensinar tolerância e respeito às minorias. Se você tem aparência, por pouco que seja, ‘diferente’ na Europa hoje, sobretudo se você for muçulmano, você é olhado com suspeitas e é possível que seja obrigado à dura tarefa de “provar” sua lealdade a um estado que, se a verdade aparecesse às claras, já se teria livrado de você, se tivesse coragem para aprovar as leis necessárias para tanto. Em alguns casos, até já há a necessária legislação, mascarada sob alguma “legislação antiterror”, ou de “segurança nacional”.

Tudo isso, apoiado por uma imprensa influente e sempre de direita, que defende o que Israel faça, errado ou certo, legal ou ilegal – e por um lobby pró-Israel que age como se fosse intocável. Dado o contexto político no ocidente, é provável que seja.

Ataques contra a esquerda
É significativo que o alvo do terrorista norueguês (o “louco”) pareça ter sido o Partido Trabalhista, de esquerda, tanto em Oslo quanto na ilha onde houve o tiroteio. Em toda a Europa as esquerdas estão fazendo alianças com grupos muçulmanos para combater o fascismo e o racismo, onde apareçam. Evidentemente não é coincidência que ensaios publicados em 1997 em todo o continente, tenham concluído, praticamente sem exceção. que “o desafio” que a Europa enfrentaria seria a presença de grandes comunidades muçulmanas entre “nós”. Assim sendo, quem considere graves os “traços de direita”, as ideias “antimuçulmanas” e até as ligações com “o fundamentalismo cristão” do terrorista norueguês será visto como opinião irrelevante.

O contexto oculto aí é que a ideologia da extrema direita de modo algum estaria ou poderia estar empurrando o mundo na direção do terrorismo.

Essa ideia é absoluto nonsense. A ideologia de direita levou a Europa ao Holocausto de judeus europeus e ao antissemitismo e sempre esteve por trás de outros tipos de racismo em todo o mundo. A ideia da superioridade da Europa e dos Europeus – construída a partir da ideologia da direita, levou ao comércio e à escravidão de seres humanos e atrocidades inenarráveis contra “o Outro” também no Oriente Médio e no Extremo Oriente.

Ironicamente, é uma extrema direita sionista – não, de modo algum, os mitos socialistas dos pioneiros sionistas socialistas utópicos dos anos 30s e de antes – que estão, hoje, por trás da limpeza étnica na Palestina ocupada por Israel, adotada como específica política israelense, também por meios militares, se preciso.

Tudo isso está bem documentado, embora permaneça ignorado pelos chefes políticos contemporâneos.

No contexto do que tudo leva a crer que sejam atos terroristas de uma extrema direita norueguesa, é também irônico que a palavra em inglês para traidor que colabora com forças inimigas de ocupação [ing. quisling] seja derivada do nome do major Vidkun Quisling, que governou a Noruega em nome da Alemanha Nazista durante a 2ª Guerra Mundial.

Hoje, estamos decidindo que “o louco” norueguês “não tem ligações com nenhuma organização terrorista internacional”. É grave risco para todos nós. A história já mostrou que as ideologias de extrema direita são transnacionais e atravessam todo o ocidente. Os efeitos podem ser catastróficos em todo o planeta global. Já fomos avisados.

(*) Ibrahim Hewitt é editor-chefe de Middle East Monitor

Tradução: Coletivo Vila Vudu
Fonte: Carta Maior

sábado, 23 de julho de 2011

MURDOCH - A PONTA DO ICEBERG


Nos últimos dias, a Inglaterra vem sendo palco de um escândalo político midiático que atingiu o coração do poder político do país. O escândalo do jornal News of the World, acusado de realizar escutas telefônicas ilegais, expôs as relações incestusosas do grupo jornalístico comandado por Ruppert Murdoch, o todo poderoso dono da Fox News e de inúmeros outros veículos espalhados pelo mundo, com integrantes do governo britânico.


O escândalo acabou por transbordar as fronteiras da Inglaterra, ao expor práticas que vêm se disseminando pela imprensa de vários países, inclusive o Brasil.


"Isto demonstra a permeabilidade do poder político e partidário à mobilização opinativa de grandes conglomerados de comunicação. Não creio que este seja um fenômeno apenas britânico”, observa o filósofo Vladimir Safatle, professor da Universidade de São Paulo, em entrevista à Carta Maior.


Alberto Dines, experiente jornalista brasileiro, afirma: "O espetáculo midiático-político a que assistimos galvanizados há mais de dez dias não tem nada de absurdo ou fantasioso. O impensável está aí, ao vivo, em cores, banda larga, 3D, alta velocidade, altíssima definição, continuamente repetido, reeditado. Vem sendo montado, a céu aberto, sem segredos ou disfarces, há pelo menos duas décadas com a participação de um elenco planetário".


O novo especial da Carta Maior "Murdoch: a ponta do iceberg" traz uma série de reportagens, artigos e entrevistas tratando não só do escândalo na Inglaterra, mas do tema que ele recoloca na ordem do dia, especialmente no brasil: a necessidade de instrumentos e espaços de regulação da mídia, que permitam à sociedade evitar práticas como estas que foram expostas agora naquele país.

fonte: www.cartamaior.com.br

sexta-feira, 22 de julho de 2011

domingo, 17 de julho de 2011

APELO



Quero deixar de lado, a cultura, a política, a economia e tudo mais que posto neste blog para fazer um pedido.
Acabei de assistir um vídeo em que o cantor Fiuk, canta a música PAI, para seu pai Fabio Jr. Isso me deixou emocionado como nunca, porque em 37 anos nunca soube quem é meu pai.
Geraldino dos Santos, paranaense, veio a Belém no início dos anos 70 contratado pela empresa MECON que na época construiu o CIABA. Conheceu minha mãe, Marly Araújo de Andrade, enfermeira chefe da Santa Casa, moraram juntos, porém se separaram antes de eu nascer, pois ele foi trabalhar em Minas Gerais.
A partir daí nunca mais houveram notícias, pois minha mãe mudou de endereço e na época a dificuldade de comunicação era grande, ou era por carta ou por telefone fixo que poucos tinham acesso.
Não tenho qualquer fotografia dele.
Passaram-se 37 anos, minha mãe partiu em junho deste ano e gostaria de saber quem é, como vive ou se pelo menos vive o Sr Geraldino dos Santos.
A mesma comunicação que nos separou e nos manteve afastados durante todos esses anos, espero que seja aliada para que finalmente eu possa encontrá-lo.
Desculpem eu pedir algo tão pessoal para pessoas que muitas nem conheço, mas fica aqui este relato, na esperança que isso se espalhe Brasil afora e meu sonho possa ser realizado.
Desde já muito obrigado a todos.

João Carlos de Andrade

FORTE AS ESCURAS


Este fim de semana estive no Forte do Castelo com minha família e um simples passeio virou aventura.
Quase todo o espaço em volta do forte, em frente a casa das 11 janelas e aquela área onde ficam os canhões estão as escuras.
Consegui terminar o passeio graças a lanterna do meu celular. As placas indicativas, que contam um pouco da história do forte e seus arredores também estão no breu.
Por tratar-se de um dos mais belos e importantes ponto turísticos de Belém, é de fundamental importância a manutenção desse espaço.
O belo chafariz há muito tempo em manutenção, agora já tem até placa de "manutenção", funciona de forma precária.
No mesmo espaço acontece o Festival de Verão, portanto a visitação ao local é grande, e grande também são as criticas daqueles que frequentam este sombrio espaço.

Outro dia estive no Ver o Rio e a situação estava ainda pior. Literalmente o passeio teve que ser feito com ajuda da inseparável lanterna do celular.

Nos prédios históricos e praças, a falta de iluminação arquitetural, escondem a beleza de nossa história, sendo que nas praças soma-se a falta de segurança que afasta ainda mais o turista e a população em geral. Experimente passar a noite pela praça D Pedro II, aquela em frente aos escuros palácios Antonio Lemos e Lauro Sodré.
Procurei o recém restaurado palacete Pinho, e não havia uma lampada acessa, ficando assim para outra oportunidade diurna a apreciação deste importante prédio histórico.
O pior é que sabemos que esta situação não é pelo sustentável ato de economizar energia. Isso é o mais puro descaso.
Caso o Pará seja realmente dividido, nos restará um alto investimento em turismo, mas do jeito que a coisa anda, muita coisa precisa ser feita.
Fica a sugestão para que todo turista ou mesmo morador da cidade, antes de iniciar um city tur por Belém, receba do estado um kit com lanterna e PM a tira colo.

sábado, 16 de julho de 2011

A PERDA DE CONFIANÇA NA ORDEM ATUAL



Vigora uma desconfiança generalizada de que deste sistema não poderá vir nada de bom para a humanidade. Estamos indo de mal a pior em todos os itens da vida e da natureza. O futuro depende do cabedal de confiança que os povos depositam em suas capacidades e nas possibilidades da realidade. E esta confiança está minguando dia a dia.

Na perspectiva das grandes maiorias da humanidade, a atual ordem é uma ordem na desordem, produzida e mantida por aquelas forças e países que se beneficiam dela, aumentando seu poder e seus ganhos. Essa desordem deriva do fato de que a globalização econômica não deu origem a uma globalização política. Não há nenhuma instância ou força que controle a voracidade da globalização econômica. Joseph Stiglitz e Paul Krugman, dois prêmios Nobel em economia, criticam o Presidente Obama por não ter imposto freios aos ladrões de Wall Street e da City, ao invés de se ter rendido a eles. Depois de terem provocado a crise, ainda foram beneficiados com inversões bilionários de dinheiro público. Voltaram, airosos, ao sistema de especulação financeira.

Estes excepcionais economistas são ótimos na análise; mas, mudos na apresentação de saídas à atual crise. Talvez, como insinuam, por estarem convencidos de que a solução da economia não esteja na economia, mas no ‘refazimento’ das relações sociais destruídas pela economia de mercado, especialmente, a especulativa. Esta é sem compaixão e desprovida de qualquer projeto de mundo, de sociedade e de política. Seu propósito é acumular maximamente, apropriando-se de bens comuns vitais como água, sementes e solos e destroçado economias nacionais.

Para os especuladores, também no Brasil, o dinheiro serve para produzir mais dinheiro e não para produzir mais bens. Aqui o Governo tem que pagar 150 bilhões de reais anuais pelos empréstimos tomados, enquanto repassa apenas cerca de 60 bilhões para os projetos sociais. Esta disparidade resulta eticamente perversa, consequência do tipo de sociedade a qual nos incorporamos, sociedade essa que colocou, como eixo estruturador central, a economia, que de tudo faz mercadoria até da vida.

Não são poucos que sustentam a tese de que estamos num momento dramático de decomposição dos laços sociais. Alain Touraine fala até de fase pós-social ao invés de pós-industrial.

Esta decomposição social se revela por polarizações ou por lógicas opostas: a lógica do capital produtivo cerca de 60 trilhões de dólares/ano e a do capital especulativo, cerca de 600 trilhões de dólares sob a égide do “greed is good” (a cobiça é boa). A lógica dos que defendem a maior lucratividade possível e a dos que lutam pelos direitos da vida, da humanidade e da Terra. A lógica do individualismo que destrói a “casa comum”, aumentando o número dos que não querem mais conviver e a lógica da solidariedade social a partir dos mais vulneráveis. A lógica das elites que fazem as mudanças intrassistêmicas e se apropriam dos lucros e a lógica dos assalariados, ameaçados de desemprego e sem capacidade de intervenção. A lógica da aceleração do crescimento material (o PAC) e a dos limites de cada ecossistema e da própria Terra.

Vigora uma desconfiança generalizada de que deste sistema não poderá vir nada de bom para a humanidade. Estamos indo de mal a pior em todos os itens da vida e da natureza. O futuro depende do cabedal de confiança que os povos depositam em suas capacidades e nas possibilidades da realidade. E esta confiança está minguando dia a dia.

Estamos nos confrontando com esse dilema: ou deixamos as coisas correrem assim como estão e então nos afundaremos numa crise abissal ou então nos empenharemos na gestação de uma nova vida social, capaz de sustentar um outro tipo de civilização. Os vínculos sociais novos não se derivarão nem da técnica nem da política, descoladas da natureza e de uma relação de sinergia com a Terra. Nascerão de um consenso mínimo entre os humanos, a ser ainda construído, ao redor do reconhecimento e do respeito dos direitos da vida, de cada sujeito, da humanidade e da Terra, tida como Gaia e nossa Mãe comum. A essa nova vida social devem servir a técnica, a política, as instituições e os valores do passado. Sobre isso venho pensando e escrevendo já pelo menos há vinte anos. Mas é voz perdida no deserto. “Clamei e salvei a minha alma” (clamavi et salvavi animam meam), diria desolado Marx. Mas importa continuar. O improvável é ainda possível.

Fonte: agência Carta Maior
Leonardo Boff é teólogo e escritor.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

DVD MARKINHO & BANDA



Música Encare de Frente, de Markinho e Banda.
Eu tive a honra de produzir este DVD, por se tratar de além de um grande amigo, um artista competentemente completo.
Veja que letra bacana.

ENCARE DE FRETE SEUS MEDOS
JOGUE FORA O PAVOR DE AMAR
SE FOR PRECISO CORRA RISCO DE VIDA
MAS NUNCA DEIXE DE LUTAR

NÃO QUEIRA QUE O MUNDO SEJA TAO PERFEITO
NÃO CONDENE ALGUEM POR ERRAR
POIS ERRANDO É QUE SE APRESNDE A FAZER DIREITO
BURRICE É NÃO QUERER ACERTAR

VIVA, CRESCA
E APRENDA QUE O SIMPLES É O MAIS IMPORTANTE QUE HÁ
E O RESTO VOCE PODE DEIXAR PRA LÁ

(...VIVA A CADA DIA COMO SE FOSSE O ULTIMO
VIVA CADA MOMENTO COMO SE FOSSE O MAIS IMPORTANTE
E AI, TUDO VAI ROLAR, TUDO VAI SER SIMPLES
TUDO VAI DURAR)

By Markinho

domingo, 10 de julho de 2011

DESENCANNES


Este site é muito bom... www.desencannes.com

Durante o processo de criação de uma campanha, muitas vezes acabam surgindo idéias absurdas que nunca foram e nunca poderiam ser veiculadas. Imagine quantas dessas peças já foram criadas e ninguém nunca as viu. No Desencannes, são essas as peças que valem. Um espaço para exposição de idéias que na maior parte das vezes ficam restritas aos criativos da agência.

Aqui, ninguém julga se a peça funcionaria. O que vale é o humor inteligente, a sacadinha, a propaganda impublicável. Pode-se criar, comentar, discordar, defender. Mas o que importa é a idéia pela idéia. Um lugar onde as peças mais extravagantes são premiadas, e concursos com briefings de produtos imaginários são constantes, para o livre exercício da criação. É a fantasia do “Já pensou se sai uma campanha assim?”.

Isso é o Desencannes. A propaganda que não existe. Imaginária. Engraçada. Absurda. Sem compromisso. A publicidade fazendo humor de si mesma. Para brincar e se divertir.

RIFA-SE UM CORAÇÃO



Rifa-se um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu..."Não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero..."
Um idealista... Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.

Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz,sendo simples e natural.
Um coração insensato, que comanda o racional, sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.

Esse coração que erra, briga se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes, revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado.Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional, que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas,mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abastado, indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.

Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer, e se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.

Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.

Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado,provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio,sem raça, sem pedigree.

Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta.


(Clarice Lispector)